segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O 10º aniversário do Lux (II)


Pela primeira vez na internet, eis a versão integral da crónica que publiquei há dois anos no Jornal Metro sobre o oitavo aniversário da discoteca Lux.



"O meu grau de egocentrismo é tão elevado que eu agora só compro jornais para ver se saiu a crítica ao espectáculo que presenciei na noite anterior. Mas como, muitas vezes, o grau de alcoolémia excede o do egocentrismo, também compro jornais para que eles me ajudem a recordar a noite anterior. Sabendo que ninguém irá escrever sobre a festa “secreta” da noite de 3ª feira na discoteca Lux, decidi avançar".



"As festas de aniversário do Lux são tão populares que quando se chega à entrada ainda se vê os convidados a abandonar a festa do ano passado. Lá dentro, ninguém sabe quantas pessoas cabem, mas cabe sempre mais um. Segundo consta, na festa de 2005 entraram 5 mil à pala. Este ano, alguém fidedigno (o que é fidedigno às três da manhã com nove vodkas em cima?) confessou-me que a gerência só enviou 2800 convites para a populaça. Fazendo as contas, isto significa que 2 mil espoliados se sentiram como Plutão. Mas este sistema ultra-selecto continua a falhar: afinal de contas, eu recebo sempre convites. Não adianta mudar de casa, o mailing do Lux é mais eficiente que a Dica da Semana. Todos os anos estou aqui caído (antes de cair por ali)".



"Receber convite é um início, mas não basta para fazer a festa – é preciso entrar na festa. Este ano, os convites exigiam uma password que apenas podia ser encontrada no DVD enviado com o convite. O DVD era um filme com imagens dos filmes de Fellini e Almodovar que serviriam para inspirar o dresscode do convidado. Como se viu na afluência de pessoal com fatos de padres, travestis e árbitros de futebol, a inspiração foi levada a sério (o Pedro Rolo Duarte vinha disfarçado de Pedro Rolo Duarte). Eu comprei um chapéu de gangster e inventei uma personagem. “E você vem de quê?”, perguntaram à entrada. “Vim a pé, por causa do álcool”. “Mas que personagem é essa?”. “É o Professor Gonzaga”. “Quem é o Professor Gonzaga?”. “A menina viu todos os filmes do Fellini, quer chamá-lo à entrada para confirmar?”.

E lá dentro, sobra o quê? Sobram três horas de ânsia etilizada e conversa ansiolítica. Na festa do Lux, o bar é aberto e as relações também, portanto pode-se descobrir o amor. O facto das pessoas levarem máscaras ajuda. Tudo parece belo, todos parecem bonitos. Excepto a partir das três da manhã quando começamos a levar tanta pancada que nos sentimos como a bola branca de um jogo de snooker".



"É estranho o sortilégio das festas do Lux. Demoramos duas horas a entrar e cinco minutos à procura da saída. Fazemos o possível para encontrar lá dentro aquela pessoa que já encontrámos cá fora, mas com quem não falámos porque estávamos demasiado ocupados a tentar entrar. Uma vez dentro do Lux, a conversa é sobre as pessoas que faltam entrar. Quando já entrámos todos, é altura de sair. Cá fora, o ritual repete-se. Talvez sejam as pessoas a enfileirar-se para a festa do próximo ano".



(Crónica do Jornal Metro de Outubro de 2006)

1 comentário:

Anónimo disse...

Agora entendo porque dizem que a noite em Lisboa é pobre... mas é que é mesmo. O turismo anda mal, e anda mesmo. E não entendo porque essa "gente" barram pessoas literalmente sem um mínimo de sensibilidade. Se o acesso é restrito ao público de modo geral era melhor que mandassem os convites para a casa dos privilegiados que podem entrar nessa "bodega" Gentileza ZERO