Quem, como, onde, quando e porquê? São estas as cinco regras elementares do jornalismo que vejo sistematicamente negligenciadas em grande entrevistas televisivas (onde apenas uma vez por programa é identificado o nome do especialista convidado a intervir sobre determinado assunto) e reportagens, entrevistas ou perfis de imprensa.
No suplemento do Público P2 do passado domingo, no destaque dado por Teresa de Sousa a um senhor de bicicleta, a regra principal (quem era?) foi liminarmente empurrada para segundo plano: embora se tratasse de um perfil sério, não percebíamos nunca quem era o “ciclista” visado. Só ao 11º parágrafo, décimo-primeiro, meus senhores, a autora Teresa de Sousa mencionava alguém chamado “David Cameron”, líder do Partido Conservador Britânico. Que por acaso também anda de bicicleta.
O mesmo terá acontecido no lead de abertura, um súmula de frases constantes no próprio texto. Seja como for, a partir da primeira frase, a responsabilidade é de Teresa de Sousa, que, apesar da sua experiência, caiu na armadilha de pressupor que os seus leitores conheciam bem David Cameron (quem não conhece, bolas?), escrevendo um texto com frases como “o jovem de 39 anos”, ou “o Tony Blair do Partido Conservador”, sem nunca mencionar o nome do “ciclista” em questão.
Note-se que até ao final do extenso perfil, só quatro vezes é referido o nome de David Cameron. A penúltima frase é elucidativa: “Quem é afinal David Cameron?”.
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