sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O abuso da CRIL

Sou a favor das obras públicas - mas continuo a preferir os públicos. Por isso, a intervenção gargantual das obras do IC17 (vulgo CRIL) no Bairro de Santa Cruz, em Benfica, incomoda-me profundamente.

Durante anos, ninguém soube como resolver aquele imbróglio de pequenos quilómetros que separava o nó da Buraca (parece título de filme pornográfico) ligando o IC17 ao IC16 na Pontinha. Mas nunca desde o projecto original se falou numa obra que ameaçasse a vida e o quotidiano de centenas de moradores. Pior: moradores de um bairro tradicional, sendo o "bairro" o único conceito que ainda nos faz acreditar em Lisboa como uma entidade viva. O que se segue, um viaduto da nova Ponte Barreiro-Chelas sobre a Penha de França e a Graça?

O atraso sistemático das obras finais da CRIL levou a que se acelerasse uma solução de recurso, impondo a tirania do asfalto sobre (ou melhor sob, mas a céu aberto) uma zona habitacional com património (o Bairro de Santa Cruz). A opção era um túnel fechado, não um buraco. Não há dinheiro para o túnel? Então não se projectava nada.

Curiosamente, esta semana, a Comissão de Moradores do Bairro de Santa Cruz alertou a Procuradoria Geral da República sobre uma eventual promiscuidade entre os funcionários da Estradas de Portugal (ex-JAE) e as empresas "isentas" contratadas para fiscalizar o património arqueológico da área (para mim, património são as pessoas, para eles trata-se de garantir que o Aqueduto das Águas Livres se mantém intacto).

O atraso sistemático das obras da CRIL leva a que agora se desculpem todos os abusos à vida e património emocional desta cidade - desde que a estrada seja finalmente terminada e nos permita chegar mais rapidamente de um ex-bairro a outro. Preferivelmente sem portagens.

Um aparte: se há uns anos a CREL não tivesse sido inesperadamente premiada com portagens, a Segunda Circular não teria metade dos problemas "pesados" que tem.

http://www.cril-segura.com/

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