terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Orgulhosamente Sá


Na terça-feira, uma crónica no jornal Público a explicar a sua intransigência. Na quarta, uma entrevista no Diário de Notícias confirmando: “Este PS de Lisboa tem feito um trabalho muito bom, tem sido muito bom para Lisboa”. Quem fala? José Sá Fernandes, vereador (ou ex-emissário) do Bloco de Esquerda (BE) na Câmara Municipal de Lisboa.


Tanto a crónica no Público como a entrevista no DN revelam uma mistura de delírio político com espírito de perseguição. Mas, como dizia o outro, “não se trata de teoria da conspiração se eles andam realmente atrás de mim”. Ora, como se sabe, o BE andava literalmente “atrás” de Sá Fernandes, não queria que ele se desviasse um milímetro da doutrina. Qual doutrina? Depende do líder do BE na semana em questão. Como se trata de um partido com uma liderança rotativa, questiono-me se isso não dará a volta à cabeça dos bloquistas.

Seja como for, o Bloco está de cabeça perdida e afastou-se de Sá Fernandes. Alegadamente, o seu cavalo de Tróia na autarquia é um animal selvagem e, como tal, precisava de ser abatido ou deixado em liberdade. A gota de água foi Sá Fernandes aparecer no Prós e Contras (RTP1) da passada semana no lado errado da questão moral e cívica – ou seja, ao lado dos maus, a favor do aumento da área dos terminais de contentores em Alcântara.


Como pode alguém do Bloco ser “pró” quando a “alma mater” do Bloco é ser do “contra”? Eu acho que Sá Fernandes revela alguma personalidade em não responder apenas pelo partido que o elegeu. O que me incomoda são as respostas que ele agora dá em nome de uma suposta política camarária PS. Ao DN, Sá Fernandes diz: “2009 vai ser um ano de concretização de compromissos”. Para mim significa: “António Costa e a sua equipa desejam um Feliz Natal, próspero ano novo, e por favor votem na gente em 2009!”.

Não sei o que vai acontecer em 2009, mas sei o que não aconteceu em 2008. Não terminaram o túnel do Marquês. Não despoluíram a Avenida da Liberdade. Não reduziram o trânsito na Baixa. Não inauguraram um único parque de estacionamento subterrâneo. Não recuperaram uma piscina, cinema de bairro ou jardim municipal. Não cumpriram o plano original dos edifícios EPUL de Entrecampos serem apenas destinados a habitação. Não pararam de construir no Parque das Nações.


Não se resolveu o Parque Mayer. Não terminaram a biblioteca de Aires Mateus no Vale de Sto António (obra parada). Não controlaram o avanço de patrocinadores privados pelos passeios públicos (como se vê pela TMN instalada no Marquês Pombal). E, pior que tudo, não retiraram o vice-presidente Marcos Perestrello de circulação. Ele é a vaidade laroca onde Sá Fernandes é o orgulho predestinado. Prefiro o orgulho de Sá, evidentemente, mas a natureza dos seus movimentos confunde-me. Ainda não percebi se ele é colaborador ou colaboracionista; se é homem de acção ou accionista; se é tiranete ou o “Tiradentes”; se Putin ou o Rasputin. O que sabemos: ele já não é do Bloco. Significa que agora já pode usar gravata?

Crónica do METRO de 28 de Novembro)

1 comentário:

Anónimo disse...

Só tendo assistido ao vivo e a côres à esforçada participação do ex-Zé ( o que fazia falta) é que se pode ter a noção do ridiculo da mesma. Foi hilariante, triste e ao mesmo tempo perigosa.
O senhor estava ali com uma missão, e cumpriu,para mal dos nossos pecados. Desviou a conversa para um tema muito diferente do que trazia as pessoas ali, e queimou tempo precioso, deixando a senhora da Secretaria de Estado fazer boa figura.