Partindo de um post deixado aqui na quarta feira passada, desenvolvi uma crónica para o jornal Metro de hoje. Para eventuais detractores, informo que não se trata de um texto sobre futebol. Prometo que depois disto deixarei de falar no menino.
Todos os dias, onde quer que seja, no semanário sisudo, na revista pimba ou no suplemento de promoções do Lidl; todos os dias, onde quer que os portugueses se encontrem, no consultório, na casa de banho ou no balcão de atendimento da Loja do Cidadão; todos os dias, na secção de desporto de um diário, na área de lazer de um jornal desportivo ou num folheto de poupança pré-reforma da próxima entidade bancária a declarar falência.
Todos os dias haverá sempre espaço para mais uma pequena notícia, um novo capítulo e necessário aditamento sobre a omnisciência de Cristiano Ronaldo no mundo. Mais do que cristiano, o Ronaldo é o verdadeiro cristão na terra, a distância mais curta entre nós, vulgares mortais, e Deus, o eterno. Espanta-me que ele ainda não tenha sido convidado para a administração Obama...
Quanto de Cristiano Ronaldo é nosso, de Portugal, e quantos de nós portugueses somos, ou gostaríamos de ser como ele? Metade da população adoptou o seu corte de cabelo, mas a forma não assegura o conteúdo. Qual a contribuição de Cristiano Ronaldo para a nossa felicidade diária, para o orgulho nacional, para a imagem de Portugal no estrangeiro?
Dizer que ele é uma espécie de embaixador significa que o Ronaldo pode mediar conflitos nos Balcãs, acelerar os acordos de paz em Timor, reduzir os níveis de pobreza na África lusófona e depois fugir impunemente para Bruxelas, como fez Durão Barroso? Quantas escolas inaugurou Cristiano Ronaldo, quantos carreiros alcatroou na Madeira, quantas playstations e Magalhães irá oferecer à pequenada este Natal? O facto de ele ter nascido num paraíso fiscal não significa que deva ser completamente... offshore.
Perguntar-me-ão: “Mas por quê embirrar com o Ronaldo, que até nos dá alegrias, e não com a Ministra da Educação, que deixa um rasto de destruição atrás de si?”. Porque aos 23 anos o Ronaldo ainda vai a tempo de ouvir. E porque o Ronaldo tem dinheiro para dar e vender. Infelizmente, e à semelhança da maioria dos portugueses, ele não tem uma cultura de riqueza - tem uma cultura de pato-bravo, de pobre endinheirado.
O que faz o pobre com dinheiro? Os vencedores do Euromilhões desaparecem de circulação envergonhados por terem enriquecido sem trabalhar (a moral impõe-lhes o degredo). Os outros patos-bravos sem moral, como seria de supôr, pavoneam-se - é o que Ronaldo anda a fazer há seis meses, dentro e fora do campo.
É verdade que não se pode culpar o menino pelos defeitos de uma nação provinciana, que tanto reverencia como censura os ricos. Mas uma vez que não podemos corrigir a nação, devemos pelo menos exigir que o Ronaldo se comporte como “a oitava maravilha” que ele apregoa ser – com todas as responsabilidades sociais e humanas inerentes ao cargo.
Um certo respeito e uma maior generosidade fariam milagres a este Natal. Porque só quando o Ronaldo finalmente agir com a exemplar grandeza dos deuses poderemos nós atingir a grandiosidade que diariamente ambicionamos como humanos. De uma forma ou de outra, estamos nas suas mãos e somos o mundo a seus pés.
Goodhart e o jornalismo ambiental
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Foi publicado o relatório "Situação populacional do lobo em Portugal/
resultados do Censo Nacional 2019 - 2021".
A ligação acima é para um resumo de resu...
Há 8 horas
5 comentários:
Eu também embirro com o Ronaldo. Mas porque acho que é triste os media darem tanto destaque a um fulano que só sabe dar uns chutos numa bola. Que dizer de outros desportistas? Como navegadores solitários que, numa casca de noz, se aventuram em algo muito mais perigoso do que um relvado verdinho? Enfim...
Ora aí está! Os navegadores solitários, os alpinistas, os corredores, os paralímpicos!
Só o tonto 'rende'...
Mas culpa tem quem compra essas publicações...
A melhor crónica da semana!!
Muito bem postado, cada vez mais este é o sentimento não só de muitos Portugueses, como do resto do mundo - Ronaldo é cada vez mais odiado como personalidade, apesar de admirado pelas suas qualidades futebolísticas. Estando estas aquém do esperado, o que resta ao "puto maravilha"? O seu ego.
Muito bem postado, cada vez mais este é o sentimento não só de muitos Portugueses, como do resto do mundo - Ronaldo é cada vez mais odiado como personalidade, apesar de admirado pelas suas qualidades futebolísticas. Estando estas aquém do esperado, o que resta ao "puto maravilha"? O seu ego.
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