sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O Fakebook


Neste momento, tenho 122 amigos no Facebook. São muitos, são poucos, serão verdadeiros ou falsos? Ainda não percebi. O que sei é que, para já, tenho mais amigos que não conheço no Facebook do que alguma vez tive na vida real. A minha média actual de amigos verdadeiros na vida real é de sete ou oito e meio, um número que estará dependente das prendas que ainda conto receber este Natal. No Facebook estou farto de receber prendas e bolas de neve virtuais.

Ao contrário das parolices infantis tipo Hi5 onde os miúdos comunicam através de iniciais, diminutivos e neologismos com a letra K, o Facebook é uma coisa séria, digna e um pouco snob que reune profissionais do meio, independentemente do meio e do fim dos respectivos profissionais (dizem-me que a maioria só quer ir para a cama uns com os outros, mas lamentavelmente ainda não recebi nenhuma proposta indecente).

O Facebook é uma rede social na internet composta por amigos que não se conhecem mas gostariam de passar a não se conhecer melhor. O que será preciso fazer para qualquer um de vocês participar? Basta receber um convite ou inscrever-se. Se ainda não recebeu nenhum convite na sua caixa postal é porque ninguém no Facebook quer saber de si. O que não é necessariamente uma má notícia.

Se desejar inscrever-se sem ter amigos que possam partilhar este seu interesse virtual, o melhor é fazer como todos nós e fingir-se entendido ou deveras interessante. O primeiro passo da mentira é a fotografia. A minha fotografia do Facebook, por exemplo, reproduzindo um momento muito sexy em que eu fui apanhado atrás da câmara de filmar em St Malo, há uns anos, contraria uma das principais regras assumidas (mas não pronunciadas) pela comunidade, que é o de revelar o rosto - daí o nome, Facebook, “capisce”?

E por que raio haverei eu de esconder o meu rosto? Por ser feio? Também. Mas porque a eventualidade de ser bonito, ou o mistério dessa incerteza, dá-me alguma esperança no meio (e no fim). E a esperança é uma espécie de vaidade comunitária sem prazo de validade. Ora, essa indefinição é algo que o Facebook e eu muito respeitamos.

Não sei qual o futuro do Facebook, mas confesso que me tenho divertido a valer. Todos os dias um de nós é uma pessoa diferente e jamais indiferente. A comunidade online funciona em sessões contínuas, como reuniões de Alcoólicos Anónimos, partilhando ansiedades, sentimentos, projectos, bisbilhotices, desejos e as fotografias do barbeque de fim-de-semana.

Sabemos mais do que é necessário saber e menos do que seria de supor se fôssemos amigos verdadeiros. Não somos verdadeiros, somos falsos, mas para falsos não está nada mal. O grande desafio está sempre na vida real, e por isso é que o Facebook é um excelente laboratório.

(Publicado no Jornal Metro de 12 Dezembro 2008)

6 comentários:

margarida disse...

...Então o "FaceBook" não é uma coisa assim de agência de modelos!?
Ai! Vou imprimir e ler com calma...
(que info-excluída, credo!...)
:(

Anónimo disse...

Embora a minha página, ao contrário, não seja uma caderneta de cromos só por causa deste magnifico texto com tanto sentido de humor, vou-me candidatar a amiga desconhecida nº123 :)

Anónimo disse...

Bãh! Então?! Só lá estão 119. Será que entretanto houve três desistências?

Miguel Somsen disse...

Qual quê? O big gang não pára de crescer. The more the merrier.

Anónimo disse...

Verdade. Mas como depois os portugueses não cumprimentam ninguém a quem não tenham sido formalmente apresentados [e mesmo assim sabe Deus!], depois acontece como naquela estória de dois amigos que vão beber um copo ao Silk e de repente um fica muito entusiasmado, dá uma cotovelada ao outro e diz-lhe baixinho: estás a ver esta giraça que está aqui ao lado? É minha amiga! - Epá! Que brasa - diz o outro. Então e não a cumprimentas? - Não, responde ele. É minha amiga no facebook!!! :)

Anónimo disse...

Excelente! Na mouche!