sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Crónica de um assalto em Lisboa


"Não vai participar à polícia?", perguntou-me a vizinha, enquanto eu limpava com uma pá as migalhas do vidro partido do meu carro, ontem de manhã. "Não vale a pena e só me dá mais trabalho", disse-lhe. O meu carro tinha acabado de ser assaltado à porta de casa, cinco anos depois da primeira vez naquele bairro (São Vicente, perto da Feira da Ladra).

A primeira vez foi na manhã seguinte a ter ido ver As Horas, de Stephen Daldry, com Nicole Kidman e Meryl Streep. O impacto do filme atenuou a ressaca do assalto daquele sábado de manhã. Mas o trabalho de descobrir um serviço que me substituísse um vidro em tão pouco espaço de tempo devolveu-me à realidade. Acabei numa daquelas marcas que, na altura, apenas resolvia este género de problemas (vidros partidos). A mesma marca que agora, segundo me dizem, deixa cartões de visita dentro de carros assaltados (isto é mesmo verdade).

Tal como há cinco anos, este assalto deixa-me indiferente - ma non troppo. Deixar que ele me desequilibre um dia de vida, sendo a minha vida naturalmente tão desequilibrada, é ceder facilmente à tentação da histeria e vitimização. Não tenho paciência. Recuso-me a sofrer por um auto-rádio ou dois ou três discos originais (as cópias ficaram todas por ali). A maior violência psicológica, como agora tanto se diz, foi ver a roupa do meu bebé no chão da rua, caída do porta-bagagens (e ainda por cima chovia). Mas nada que não se resolva.

O que aprendi: nunca deixar nada de valioso dentro do carro. Mais: nunca deixar nada de emocional dentro do carro. Se me tivessem levado a cadeira de bebé (não levaram), custava-me imenso. Essencial: garantir que em vésperas de Feira da Ladra (terças e sábados), nada no carro possa chamar a atenção da cobiça. Já pensei em deixar uma casca de banana em cima do meu carro, para dissuadir os bandidos. Alguém assalta um carro que apresente uma casca de banana no tejadilho?

Moral da história? Quando venderem carros com garagem, serei dos primeiros a adquirir. Conclusão: o dever cívico paternal (e a solicitação da seguradora) levaram-me a participar do assalto à polícia. É mais um para a estatística, dizem-me da 15ª esquadra.

Must See TV: Mad Men

Tento recordar qual das cenas da primeira temporada de Mad Men (em exibição na Fox Next e Meo) mais me terá impressionado, e fico num impasse. Terá sido o momento em que Betty, a solitária esposa suburbana de Don Draper, descobre o gozo que é debruçar-se sobre uma máquina de lavar trepidante? Ou a sequência em que os “(m)ad men” (de Madison Avenue) tentam compreender o sucesso do “carocha” da Volkswagen, marca germânica associada ao nazismo? Inesquecível o diálogo musculado da estreia, onde o protagonista Don Draper, a gerir a campanha da Lucky Strike, conversa sobre vícios de fumo com um empregado negro, que não está autorizado pelo patrão a responder. Nos anos 60, a América “impoluta” iria chegar ao fim – mas a série passa-se antes do fim dos impérios, quando tudo era bonito e as pessoas sabiam qual era “o seu lugar”. Em suma: um delírio saudosista que fará tremendo sucesso entre uma certa classe demodée em Portugal.
A imagem global que guardo de Mad Men é de um quadro idílico inspirado em Edward Hopper ou Norman Rockwell, retratando uma sociedade impecável de reposteiros alinhados, camisas vincadas e comida na mesa. Os homens casados deixam as mulheres em casa, nos arredores, e frequentam as amantes antes, durante ou depois do trabalho em Manhattan. As secretárias serão cortejadas indiscriminadamente, com maior ou menor sucesso, até ao momento da sua epifania (para Peggy Olson, será no fim da primeira temporada). Estamos em 1960, já se fala de Kennedy mas não de revolução sexual. As meninas lêem o proscrito Amante de Lady Chatterley de DH Lawrence, mas ainda não há pílula, portanto também não há poder. O escândalo não é fumar-se no trabalho, na cozinha ou na cama antes de dormir, mas sim uma das vizinhas, mãe de dois filhos e assídua dos comícios de Kennedy, ter decidido divorciar-se. O escândalo é o grupo sexista de criativos ter de admitir a entrada de um elemento feminino nas suas fileiras, apenas porque ela descreveu o resultado de um testing de batons como “um balde cheio de beijinhos” e descobriu que um “massajador feminino” pode ser uma geringonça eléctrica capaz de dar grandes alegrias à mulher solitária.

A cena mais bela de Mad Men é o discurso de apresentação por Don Draper de um novo sistema circular de slides da Kodak aos seus clientes. O modelo ainda não tem nome, mas a descrição sublime do génio publicitário (um homem com um passado obscuro) aponta a uma nostalgia que pensávamos ser irrecuperável. Os clientes ficam de cara à banda, um dos colegas sai da sala a lacrimejar, e fica resumido numa frase profética sobre vitrinismo o espírito da série Mad Men: “a conspicuous lack of clutter” (uma ausência notável de excessos).

Miguel Esteves Cardoso


Ainda no jornal O Independente, lembro-me de uma vez o Vasco Pulido Valente me ter acusado de "pretender escrever como o Miguel Esteves Cardoso". Vindo de quem é, não poderia ser um elogio. De qualquer forma, essa descrição redutora sobre os colegas (Vasco Pulido Valente, num dos maiores erros da sua carreira, editava então o Caderno 3 de O Independente, e reduzia todos os jornalistas a "epígonos do MEC") acabou por dizer aquilo que era essencial saber sobre o bicho-homem Vasco Pulido Valente. Até hoje nada nele mudou.

Com muita pena minha, nunca trabalhei com o Miguel Esteves Cardoso nem com o Paulo Portas. Quando cheguei ao jornal, em 1992, salvo erro, eles já estavam de saída. Perdi o melhor, é verdade. O MEC era uma referência - pela coragem, o humor e o gosto musical. Uma vez encontrei-o na livraria Buchholz e cumprimentei-o, mais nada. Ele disse que "temos de falar". E por aí se ficou a conversa. Por outro lado, trabalhei num "outro" O Independente, com uma nova safra: Fernando Camacho, Pedro Marta Santos, Martim Avillez de Figueiredo, Luísa Jacobetty, Manuela Carona, Domingos Amaral e, o meu favorito, Sérgio Coimbra, que se auto-afirmava "um verdadeiro filho da puta" (ela era-o para todos, excepto para mim, por isso eu adorava-o). O "outro" O Independente manteve a inspiração, mas criou postura - ou melhor, impostura, atrevimento, insolência.

Olhando agora para trás, reconheço que a minha maior virtude foi nunca pretender escrever como o Miguel Esteves Cardoso. É verdade que ele tinha aberto a caixa de Pandora, e que a sua escrita nos "autorizava" a prevaricar, ou a soltar as amarras de um modelo tradicional de comunicação que o semanário Expresso havia institucionalizado. Mas seria uma estupidez copiar um "original", coisa que ninguém naquele jornal, mesmo os mais idiotas, foram suficientemente estúpidos para pensar fazer.

Esta semana, a revista Sábado abriu um destaque com o Miguel Esteves Cardoso. Na quinta página da entrevista, o visado explica um dos segredos do seu sucesso: "Comecei a tomar anfetaminas aos 14 anos. Nunca parava, 24 horas por dia, durante 15 anos. E estava sempre a beber. Cheguei a beber 4 garrafas por dia. Bebia álcool logo de manhã. Depois tomava cocaína, que tira o efeito do álcool, para trabalhar. Depois tomava Lexotan para relaxar. É horrível. Sempre que tomei cocaína foi para trabalhar. Nunca para me divertir. Para isso, tomava ecstasy. Era um bolo de coisas, todas a lutar umas com as outras, para me sentir como me sinto hoje sem nada - normal".

É uma pena o MEC agora nos vir confessar estas coisas, porque assim muita gente vai pensar que o seu talento não era inato.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Meio vazio ou meio cheio?

Há seis meses, o preço do barril de petróleo estava a cerca de 120 dólares, e toda a histeria em torno dos combustíveis parecia, digamos, justificada. Agora, o preço do barril está a metade. A metade. Portanto, não seria legítimo esperar uma espécie de histeria colectiva pelo facto de as gasolineiras apenas decidirem descer uns míseros cêntimos no preço da gasosa?

Lisboa em Festa: a Rua D. Pedro V está viva!

Não tenho paciência para o choradinho dos pequenos comerciantes de Lisboa, a soluçar sistematicamente pelo apoio da Câmara na resolução de problemas comerciais da sua própria responsabilidade. Por isso, louvo a iniciativa marginal dos bairros e das ruas de Lisboa em criar esporadicamente eventos alternativos (isto é, com horários para os moradores em vez de apenas para os que por lá passam).

É verdade que ainda não existe em Lisboa uma rua com a dinâmica cultural e empresarial da Rua Miguel Bombarda no Porto, mas será de realçar o esforço mensal do Santos Design District, dos antiquários da Rua de São Bento e, agora, do comércio local da Rua D. Pedro V, que planeia manter as portas abertas até às 23h00 dos próximos dias 6, 7, 8 e 9 de Novembro.

Lisboa é uma aldeia com pequenas aldeias, e a ilusão de grandeza pode ser o seu maior pecado capital. Prefiro assim que estas ruas desenvolvam as suas potencialidades até ao limite proporcionado pela sua geografia. First we take Manhattan...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Iluminações de Natal: Lisboa ou Las Vegas?


A imprensa confirma: este ano, a Câmara de Lisboa não vai gastar um tostão com as iluminações de Natal. Porquê? Cedeu tudo aos privados. Há meses que sugiro uma parceria interventiva que ponha a Câmara em diálogo com os privados para resolução das questões mais melindrosas na cidade de Lisboa (como as obras da Segunda Circular, que deveriam ser suportadas pelas gasolineiras, centros comerciais, fast food e clubes de futebol). Infelizmente, nunca ninguém me liga nenhuma, chuif.

De qualquer forma, e mesmo em sintonia com esta concessão excepcional da Câmara aos privados, não deixo de temer a invasão comercial dos espaços de Lisboa. Será que em vez de luzinhas de Natal vamos ter néons publicitários? Lisboa transformada em Las Vegas? Respostas a partir de 15 de Novembro, numa esquina perto (ou em cima) de si.

Nota: a fotografia publicada em cima é de 1957, autoria de Judah Benoliel, irmão de Joshua.

R.I.P.: Gerard Damiano (1928-2008)


Se eu tentar fazer uma pesquisa no Google sobre o melhor filme pornográfico de sempre na história do cinema, o mais provável é ser encaminhado para uma indústria de "adult movies" que em nada tem a ver com filmes pornográficos dos anos 70, como Garganta Funda, The Devil in Miss Jones e Behind The Green Door.

É uma das armadilhas da internet: o "melhor filme de sempre na história do cinema pornográfico" vai dar exactamente à mesma pesquisa de "o melhor filme pornográfico de sempre na história do cinema". Mas quem diz que se trata da mesma coisa? Nos anos 70, quando a pornografia chegou ao cinema em sala, ainda era praticamente considerado "cinema de autor" (nunca se viu um público tão individualizado nos cinemas). Portanto, era um género de cinema como outro qualquer. Com os anos 80, tudo mudou.


Paul Thomas Anderson, com Boogie Nights (1997), retratou exemplarmente a altura crucial, com a entrada do circuito vídeo e a domesticação dos públicos, em que o cinema pornográfico de autor foi engolido pelos "adult movies" que agora conhecemos. Foi o fim de um encantamento intelectual, de uma transgressão caucionada, de uma partilha sensorial: hoje, regressar a Garganta Funda ou Behind The Green Door (uma espécie de 2001 do cinema pornográfico) é redimensionar essa experiência rebelde e inigualável dos seventies. Hoje, ir aos peepshows ou à net não tem nada a ver.

Portanto, ao ler hoje o obituário do realizador de Garganta Funda e The Devil In Miss Jones, Gerard Damiano, pergunto-me há quanto tempo teria ele na realidade morrido.

Maradona


Maradona e Platini fizeram a transição do futebol artesanal que conhecíamos dos anos 70 (da qual apenas a selecção holandesa de Cruijff seria uma excepção) para o futebol moderno, sublime e colectivo que reconhecemos hoje. Sim, eles eram "a figura", mas não teriam sido ninguém se as respectivas selecções (Argentina em 86 e França em 84) não tivessem ganho nada.

É por isso que várias vezes me questiono sobre a capacidade de Cristiano Ronaldo vir a sobreviver à constante mediania da selecção do seu país, o nosso. Se ela não ganhar nada, como visivalmente nunca ganhará, que terá ele ganho afinal e no final? Mulheres? Para isso tivemos o George Best, do Manchester United, que era realmente um galã.

Mas a reforma de Platini e Maradona teve aposentos bem diferentes: Platini é hoje cabeça de cartaz na UEFA, Maradona é uma figura caricata no mundo do futebol. Platini conquistou, Maradona alienou. Platini é o diplomata onde Maradona faz a intriga: são conhecidas as suas opiniões sobre tudo e contra tudo, inclusivamente contra as opções de gestão da selecção nacional da Argentina.

Por isso, é com alguma surpresa (ou mesmo nenhuma) que Maradona é hoje anunciado como "novo seleccionador nacional da Argentina". Como é que ele conseguiu isto? Como é que ele conseguiu que aquele célebre golo, no Mundial 86, com a "mão de Deus" fosse regulamentar? A sua escolha para treinar a Argentina é, se quiserem, a mão de Deus aplicada à intriga palaciana.

Nunca voltei a ver um jogador genial tão auto-destrutivo como Maradona. Alguns são geniais, outros auto-destrutivos, mas ninguém como Maradona reuniu aqueles dois atributos. Agora que ele foi escolhido para a Argentina, é de esperar que a equipa nacional das pampas vá pelo mesmo caminho: geniais já são, mas nunca foram tão auto-destrutivos ao ponto de escolherem um tipo como Maradona para os treinar.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Os contentores de Lisboa


A única razão que me impede de ser totalmente contra a utilização da zona ribeirinha de Lisboa para depósito de contentores, como sucede em Alcântara e Santa Apolónia, é porque a alternativa privada, de entregar as margens da cidade a intervenções turísticas livres e sem lei, seria indiscutivelmente pior.

Perguntar-me-ão: "Preferes um industrial totalitário, o Porto de Lisboa, a meia dúzia de empresários com iniciativa individual?". Em condições normais, não. Conhecendo os bandidos da cidade como conheço, sim. Se isto fosse Oslo ou Copenhaga ou Estocolmo ou Helsínquia, não. Mas sendo Portugal, acho que prefiro a gestão do Porto de Lisboa.

E sabendo o que demora até a cidade resolver as suas alternativas (como se vê pela longevidade das obras na Praça do Comércio e Cais das Colunas), é uma questão de tempo até se poder enviar contentores de um país para o outro por email, como attachments...
De qualquer forma, pelo sim pelo não, assinei a petição.

Morrer da cura


Achei obscena a informação estatística veiculada pela imprensa deste fim de semana sobre as eventuais "sete mil mortes anuais devido a erros de medicação". Mas, felizmente, o ex-vice presidente da Infarmed vem pôr alguma água na fervura. Diz Faria Vaz que o número veiculado refere-se apenas a "dados internacionais e não reflectem a situação em Portugal, onde não há um sistema que registe estes casos".

Claro que há sempre várias maneiras de interpretar o esclarecimento. A mais importante é que, não havendo um mecanismo que nos permita registar estes casos, se calhar o número especulado pode ser maior. Mas de forma a estabilizar a relação tranquila que muitos portugueses têm para com as suas drogas legais, sugiro a segunda interpretação: os "dados internacionais" são apenas referentes a imigrantes ilegais de bairros degradados e, como tal, não reflectem a "situação" em Portugal.

E, agora, já posso tomar o meu barbituricozinho?

Árvore de Natal do Parque Eduardo VII


Cada vez que vejo Lisboa em obras, penso: "Finalmente, vão arranjar aquela porra!". É por razões inocentes como esta que os outros são patrões e eu mero subalterno. Eu ainda acredito que esta porra tem solução.

A semana passada, as obras notáveis na Avenida da Liberdade eram apenas para garantir qualidade ao espectacular roadshow da Renault. A fórmula 1 cumpriu os piões prometidos, e atirou novamente com a Liberdade para a liderança das avenidas mais poluídas da Europa (logo a seguir à Rua Direita de Chernobyl).

Agora, as "obras" no Parque Eduardo VII são apenas por causa da árvore de Natal da Zon Multimédia, que irá iluminar a cidade de 22 de Novembro até ao Dia de Reis. Como bom pornógrafo que sou, não tenho nada contra estas manifestações priápicas pela cidade. Desde o momento em que se liberalizou a construção em altura das Avenidas Novas, o céu é o limite. Mas pela dimensão da coisa, dir-se-ia que o topo da árvore da Zon Multimédia vai ser ornamentada pela verdadeira... estrela polar.

Jennifer Hudson: do sonho ao pesadelo

É verdade, o título deste post parece um filme rançoso de jornalismo série B. Mas eu sou um pouco mundano nestas coisas de crime e castigo. E, como Teodoro Adorno, também acredito que não é possível escrever poesia depois de Auschwitz.

Daí não encontrar palavras para descrever o horror da tragédia que se abateu sobre a família da actriz-revelação de Dreamgirls, Jennifer Hudson (vencedora de um Óscar em 2007): mãe e irmão abatidos a tiro em Chicago, na sexta feira passada, e o sobrinho de apenas 7 anos levado para parte incerta.

A suposta recompensa de 100 mil dólares prometida por Jennifer Hudson aos eventuais raptores não garantiu a misericórdia: o menino foi encontrado morto ontem.

Frente Ribeirinha de Lisboa: até ao lavar dos cestos...

Questionado pelo jornal Público de domingo último sobre as razões que teriam justificado o seu abandono do projecto da frente ribeirinha de Lisboa, José Miguel Júdice fez-me lembrar a resiliência de Santana Lopes na SIC Notícias, quando um dia o seu comentário foi interrompido pela chegada de Mourinho ao aeroporto da Portela.

Júdice: "Para mim [a frente ribeirinha] é um assunto encerrado, excepto numa coisa: um dia vou dar conta aos lisboetas do que queria fazer, do que foi feito, e tirar uma lição das coisas que são exemplos acabados do que não se deve fazer". Ou seja: não comento mas tenho imensa coisa para vos dizer.

Gosto particularmente do último trecho: "Não lhe vou dizer agora porque é que saí, senão destruía as expectativas de qualquer editor poder ganhar dinheiro com o livro que hei-de escrever". Brilhante manobra de marketing. Ainda o pó não amainou sobre a negociata obscura da "frente ribeirinha", e já esta gente pensa em lucrar com a escandaleira política que grassa por Lisboa.

Se querem fazer negócios de literatura fácil, não será mais simples assaltar a casa do Miguel Sousa Tavares e levar-lhe o computadores com os próximos best sellers do jornalista? É assim que fazem os ladrões honestos...

domingo, 26 de outubro de 2008

A Mudança de Hora: não há horas grátis

Sempre desconfiei desta invenção moderna da mudança para horário de Inverno (foi esta noite, sabem?): é que "eles" dão-nos uma hora a mais para dormir ou brincar e depois cobram isso tudo em juros, retirando-nos uma hora solar diária aos 150 dias dias que faltam para a Primavera. Isto parece esquema de bancos...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Bossa Nova... ou velha conversa?

Já não tenho paciência para os músicos portugueses, sejam eles JP Simões ou Maria de Medeiros, a dar uma de artista brasileiro na praça. Sim, eles dizem-nos que se trata apenas de "homenagens" aos 50 anos da Bossa Nova. E eu até compreenderia esta fuga para a frente, se realmente se confirmasse que, como sucedeu à Eugénia Melo e Castro, não há mercado para o trabalho artístico desta gente tão prendada em Portugal - e em português. Se eles são bons, não precisam de legendas ou tradução.

Da mesma forma, já não tenho paciência para os portugueses engraçadinhos que falam "brasileiro" com os brasileiros que vivem e trabalham em Portugal. Será que eles acham que ao falar com a mesma pronúncia dos estrangeiros vão assim desencantar... um amigão?

A Charcutaria Francesa

A charcutaria não tem nada de gaulês, nem mesmo pratos com alho francês. O que tem é uma qualidade internacional a preços (e ambiente) de amigo. Escondidinha numa das ruas que ladeia a Praça das Flores (impossível estacionar, a não ser que se tenha um Skoda e alguns amigos na câmara), a Charcutaria arrisca na sua segunda tentativa de servir almoços baratos: prato pequeno a 4.75 euros, prato grande a 6.50 e buffet livre a 8.50. Se é aqui que venho jantar quando exijo qualidade e alguma familiaridade, é natural que também pense em almoçar. Se conseguir arranjar tempo para almoçar um destes dias...

Rua Manuel Bernardes 5 a/b. (Lisboa )
Telm 911 033 392
www.charcutaria-francesa.com


Estoril Film Festival 2008


Está a chegar.
Conferência de imprensa na próxima quarta feira, dia 29, no Casino Estoril, ao meio dia. Vou chegar atrasado.

Nan Goldin quer almoçar!

A Vogue anda à procura de um restaurante porreiro em Lisboa onde possa levar a fotógrafa nova iorquina Nan Goldin para almoçar e entrevistar - mas apenas por voltas das 15horas de sábado. Uma vez que a artista quer passear na Feira da Ladra amanhã de manhã, sugeri o restaurante Faz Figura, na Rua do Paraíso, a dois passos do Panteão.

O Faz Figura já foi um restaurante muito bom - agora, com nova gerência, é mediano e careiro. Ainda assim, mantém uma varanda com vista espantosa sobre o rio. Contactados pela revista para reserva de mesa, os responsáveis do "espaço", informados sobre a visita de Nan Goldin, disseram que não seria possível, uma vez que a cozinha fecharia às três da tarde. Crise, qual crise?

Vou mandar toda a gente para o Santo António de Alfama. A ementa pode ser inflexível há anos mas, pelo menos, os horários têm maior latitude. Almoços até às cinco da tarde.

Derby do dia: Herman José vs Fátima Campos Ferreira


A notícia é do Diário de Notícias de ontem e refere que Fátima Campos Ferreira, jornalista da RTP e professora universitária em Lisboa, disse a alguns dos seus alunos que o "Herman José já não tem credibilidade como comunicador" de outrora. Alguma boutade?

Mas uma das alunas presentes, conhecida de Herman José, mandou-lhe um sms com essa preciosa informação e, passados uns dias, o comediante decidiu enxovalhar a sua ex-colega num dos programas da Roda da Sorte, na SIC. "Limitei-me a reagir com cáustica ironia", referiu o antigo comediante ("antigo" é uma liberdade do autor deste texto).

Herman diz que Fátima Campos Ferreira tem "dor de cotovelo" por estar a apresentar um programa, o Prós e Contras, onde "toda a gente adormece". Uma cáustica ironia ao nível do antigo comediante ("comediante" é uma liberdade do autor deste texto).

No meio desta parábola de grandes comunicadores, só falta saber que título dar à simpática aluna que denunciou este delito de opinião. Como é que se escreve "queixinhas" em linguagem para sms?

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Jobs For The Boys (and Girls): Top 20

Exmos criativo(a)s,
Está feita a primeira selecção de 20 candidato(a)s para o cargo de copywriter no departamento de auto-promoções da TVI. Pedimos aos felizes contemplado(a)s que compareçam nas nossas instalações em Queluz de Baixo(a) às 10h32 de um dos dois dias (29 ou 30) da última semana de Outubro. T minus six days...

Pedia que me mandassem uma resposta rápida com a data da vossa visita para o meu mail prophissional da TVI mcsomsen@tvi.pt, de maneira a podermos receber condignamente (ou seja, com cadeiras) dez alunos em cada uma das duas visitas.

TVI
Rua Mário Castelhano 40
Queluz de Baixo
2734-502 Barcarena

Em caso de dúvidas ou ausência de GPS peçam direcções mais concretas ao polícia sinaleiro que habitualmente opera na rotunda para quem vem do IC19 para Queluz de Baixo. Ele sabe.

COPYWRITER TVI: TOP 20
André Murraças

Catarina Medina
Cristina Lima
Dora Crispim
Diogo Pécurto
Elsa Bastos
Felipe Branco
Francisco Véstia
Joana Anahory
João Coelho
Maria Margarida Pina Pereira
Nilza Sousa
Nuno Sousa
Patrícia Torres
Pedro Miguel Mestre
Ricardo Agostinho
Rui Azevedo
Sara Arega
Tiago Veiga Veiga
Ulika da Paixão


A todos os outros, obrigado pela vossa participação.

domingo, 19 de outubro de 2008

O meu acordo hortográfico

Palavra do dia: "Gamalhães".
Computadores portáteis made in Portugal fáceis de ser gamados pelo pessoal nas escolas.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

BEST 2008: Get Well Soon - "Rest Now, Weary Head, You'll Get Well Soon" (2008)


Descobri este disco no início do ano, seis meses antes de António Sérgio e a Radar começarem a fazer rodar a versão soft do alemão Konstantin Groper (nome de guerra: Get Well Soon) para Born Slippy dos Underworld (que é aliás um dos 16 temas do álbum). A última vez que se conseguiu um talento tão profícuo foi quando os Boo Radleys editaram Giant Steps (1993), um clássico com 17 pequenos contos que ainda hoje estou a tentar interpretar. Get Well Soon será também para consumir durante duas décadas? Os clientes de Beirut, Nick Cave, Arcade Fire, The National ou Radiohead poderão responder melhor do que eu.

Tema de eleição: If This Hat is Missing

BEST 2008: Sonny J - "Disastro" (2008)


Tem sido fraco o ano musical 2008, ao ponto de eu já considerar o Viva La Vida dos Coldplay (ou a produção de Brian Eno para o álbum dos Coldplay) como um dos melhores do ano. Na minha lista provisória de DEZ MELHORES 2008 vai decerto constar a estreia de um miúdo de Liverpool, Sonny J - com uma mixtape que vagueia pelos clássicos funk e R&B, algures entre Moby e Go!Team. Mas com muito menos tédio que Moby e muito melhor produção que Go!Team.

Tema de eleição: Can't Stop Moving!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Jobs For The Boys (and Girls): actualização

Caros amigos:

Terminada a resenha dos 230 currículos enviados para o mail mcsomsen@gmail.com através do site http://www.cargadetrabalhos.net/ (ou seja, cerca de 70 deles recebidos depois de terminado o prazo de recepção institucional determinado aqui pela chafarica), vinha por este meio pedir alguma paciência a todos os candidatos que concorreram, ou ainda estão a concorrer ao cargo (e devida carga) de copywriter para uma estação de televisão lisboeta.

Rapidamente divulgaremos uma lista provisória de pessoas com as quais gostaríamos mesmo de falar (ou convidar para jantar). Estejam atentos.

Não queria contudo perder a oportunidade de congratular todos aqueles cuja imaginação os levou a responder a uma oferta que em nada terá a ver com as vossas qualificações. É verdade que nos dava imenso jeito termos aqui um pianista ou um jardineiro, mas antes disso teríamos que adquirir um piano ou terraplanar um jardim.

A maioria dos vossos currículos é impressionante. Muitos deles ficarão pelo caminho, outros seguirão para o departamento de recursos humanos ou áreas de especialização audiovisual diferentes da nossa (sendo a nossa especialização a escrita de auto-promoções). Contemplem: o mais talentoso de vós poderá vir um dia a ser o nosso chefe.

Já agora: isto é mesmo a sério, mas escusavam de ser tããão sérios.

Mundial 2010: Portugal 0-0 Albânia


Uma amiga diz-me que ontem a selecção nacional de futebol lhe fez lembrar a Espanha de há uns anos atrás: muitas individualidades e pouco mais. Será que isso significa que um dia, tal como a Espanha, também vamos ganhar o Europeu? Não me parece. Mas podemos continuar a acreditar em coisas melhores: o que ontem se viu não foi sequer um conjunto de individualidades fracassar num único objectivo (ganhar), mas uma "alta individualidade", a selecção, falhar em todos os sentidos: na exibição, na táctica e no resultado.

O resultado, como se viu, é o pior de todos. Zero a zero com a Albânia, que passou a jogar apenas com dez jogadores a partir dos 40 minutos? Um desastre. Em seis pontos possíveis, Portugal perdeu cinco deles em casa (derrota com Dinamarca, empate com a Albânia). E perder pontos significa sempre que alguém do outro lado os ganha. Portanto, com quatro jogos cumpridos, Portugal é agora tão favorito como a Albânia e a Hungria. Quem penso que vai ganhar o grupo? A Dinamarca. O facto de ter ganho em Lisboa estimulou-a de forma exponencial: a Dinamarca está serena no comando das operações, parece uma equipa treinada por Scolari.

E o jogo de ontem? Dos mais fracos de sempre de Portugal. Queiroz fez tudo o que havia para fazer, incluíndo jogar com Nuno Gomes e Hugo Almeida na frente. A juntar a Cristiano Ronaldo, Quaresma ou Nany, é uma fartura. Uma fartura insuficiente, com a particularidade de ninguém ter querido assumir a responsabilidade de ganhar o jogo de forma individual, de arriscar numa aventura solitária, de pôr o pé em ramo verde (nem Raul Meireles rematou à baliza).

Ronaldo, fora de forma, não pode ser o único culpado. A culpa é sempre de quem não joga: neste caso, de Deco, o nosso verdadeiro mago. Ou de Queiroz, que está, talvez, a falhar na interpretação dos valores de que dispõe. Quem teria salvo a honra ontem? O Makukula. Bastava ele não jogar no Benfica e continuaria pela Europa fora a marcar golos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Job for The Boys (and Girls): There can only be one

O post de ontem lia:

"És criativo(a)?
Sabes escrever(e)? E descrever?
Queres trabalhar em (na) (dentro da) televisã(o)?
Manda currículo(a) e contact(a)o para aqui.
mcsomsen@gmail.com
Isto é a sério".

O post de agora diz: basta.
Os 165 candidatos que descobriram esta oferta no site www.cargadetrabalhos.net e solicitamente enviaram currículos para mcsomsen@gmail.com vão encontrar-se aqui, nest blogue, para conhecer a lista de pré-selecção e datas de entrevistas para o cargo de copywriter numa conhecida estação de televisão.

Por favor, aguardem coordenadas.
Por favor, deixem de enviar currículos.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O meu acordo hortográfico

Palavra do dia: "Bananalidades".
Trivialidade proferidas por bananas.

Job for the Boys (and Girls)


És criativo(a)?
Sabes escrever(e)? E descrever?
Queres trabalhar em (na) (dentro da) televisã(o)?
Manda currículo(a) e contact(a)o para aqui.
Isto é a sério.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

R.I.P. Guillaume Depardieu (1971-2008)


Acabei de saber: o actor Guillaume Depardieu, filho de Gerard Depardieu, morreu com 37 anos de idade, vítima de uma pneumonia contraída durante as filmagens de L'Enfance d'Icare (2009), na Roménia.

Final inglório para um dos rebeldes menos afortunados do cinema francês recente: já em 2003, Guillaume viu ser-lhe amputada a perna esquerda depois de um acidente de motorizada ocorrido... oito anos antes. Para que conste, era mais bonito que o pai.

Em L'Enfance d'Icare, contracenava com Alysson Paradis, a irmã de Vanessa. Mais um filme que, a ser finalizado, se poderá tornar num objecto de culto.

Feira Popular: Amy Winehouse


A notícia é fidedigna" do jornal Blitz, rapinada ao News Of The World (sensacionalista), e confirma que Amy Winehouse gosta da cocaína com açúcar, por isso decidiu comprar uma máquina de algodão doce para fazer melhor as misturas. Mesmo que não seja verdade, é uma informação demasiado boa para ser mentira. Winehouse inventa formas doces para se finar.

Must See TV: Mad Men


"Comer ostras é como comer uma sereia", diz o protagonista de Mad Men, Donald Draper (Jon Hamm), ao seu colega e inevitável rival de estimação Roger Sterling (John Slatterty), durante uma cena à mesa, no sétimo episódio da primeira temporada da série (vencedora dos últimos Emmys). Apesar de retratar a rotina diária duma agência de publicidade nova iorquina dos anos 50 (os mad men são de Madison Avenue), Mad Men não é uma série de frases feitas. Bem pelo contrário: as suas melhores deixas são, digamos, suspiradas. Como se escrevia há dez anos: é must see TV.

A Verdade (da mentira) Desportiva


Um dia depois do Suécia x Portugal, onde alegadamente terá ficado por marcar um penalty contra os da casa, o jornalista Rui Santos decide publicitar na SIC Notícias uma petição da sua autoria em prol da "verdade desportiva". Qual a ideia? Permitir que o infalível circuito vídeo possa rectificar algumas das decisões mais polémicas e delicadas dos árbitros de futebol. Ou seja, o Big Brother adaptado ao desporto.

Como se sabe, a discussão sobre a "verdade desportiva" só costuma vir à tona nos fins de semana em que não haja jogos para o campeonato da I Liga. Basta algum dos clubes grandes começar a ser beneficiado (como sempre é) em detrimento dos outros 13 clubes da I Liga, e a conversa perde referência.

Pessoalmente, e por ser adepto de um clube pequeno (o Belenenses), abandonei há muito o idealismo vigente: não sou a favor da ideia mundana de que "o árbitro é humano e também pode errar", mas tenho a certeza que bastaria a criação de uma "entidade vídeo reguladora" para tudo ser entregue ao escrutínio do canal do Benfica.

Além disso, se for uma máquina a dizer-nos ao final de domingo quais dos três grandes foram beneficiados na jornada de fim de semana, não estou a ver qual possa ser o tema de conversa dos portugueses à 2ª feira de manhã. Incluíndo a conversa fiada de Rui Santos.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O casamento homossexual


Mais uma vez a discussão sobre o casamento entre homossexuais em Portugal foi atirada para as calendas. Não sendo, como a imprensa indica, para a próxima legislatura, será para o próximo governo? Estaremos a pagar o preço de um país que apenas há um ano legislou sobre a interrupção voluntária da gravidez? Como desculpa esfarrapada, serve perfeitamente.

A realidade no entanto é outra: um país tacanho precisa de uma política corajosa que sobressaia e, neste momento, tirando o Bloco de Esquerda e os Gato Fedorento, não existe uma "política corajosa" em lado algum. Afinal, isto acontece na mesma semana em que Portugal reconhece "corajosamente" a independência do Kosovo mas, para não ferir susceptibilidades, diz à Sérvia que também gosta muito dela. Que resta, sugerir Karadjic para Nobel da Paz 2009?

Se perguntarmos aos portugueses se eles são a favor ou contra os casamentos homossexuais, 9 em cada dez (heterossexuais portugueses) responderão "contra" (apesar de todos eles afirmarem ter "imensos amigos gays"; que ideia estapafúrdia é esta de que todos os gays têm de ser porreiros?). Se, por outro lado, perguntarmos aos portugueses se a vida deles será alterada pelo facto de agora os homossexuais poderem casar, dez em cada dez encolherá os ombros antes de perguntar a que horas dá o jogo do Benfica.

Nada na vida dos heterossexuais portugueses será alterada por uma legislação que permita aos homossexuais casar-se. Mas, infelizmente, para os homossexuais, essa legalidade é absolutamente condicionante. Ora, enquanto a maioria dos legisladores continuar a discutir uma questão civil como um direito de minorias, nunca os homossexuais deixarão de ser tratados como minorias. E sendo assim nunca este tema deixará de ser... menor. E mesmo assim maior que o país que o legisla.

Cara ou Coroa?

Todas as semanas, antes de iniciar estas crónicas [no METRO], atiro uma moeda ao ar. Se a moeda der cara, escrevo um texto elogioso e ditirâmbico sobre algo. Se a moeda der a outra face, desanco em alguém ou no Benfica. Portanto, quando a moeda sai cara, tenho de inventar um tema mais condescendente. Tipo o novo disco dos Keane, já ouviram? É muito bom.

Cada vez que sai coroa, só preciso de me lembrar do que António Costa anda a fazer por Lisboa. Muitas vezes, não preciso de moeda, basta-me ler os jornais e revirar os olhos. A perplexidade desta semana? A cedência comercial da Avenida da Liberdade à Renault para exercícios de Fórmula 1, previstos para o último fim de semana de Outubro.

Imagino as negociações entre os autarcas e o responsável da marca francesa:
- Então quer fazer uma corridita na Avenida da Liberdade?
- Oui, é muito parecida com os champs elisées.
- Mas em vez de alta cilindrada não podiam fazer com dois cavalos?
- Pardon? 2CV é Citröen...
- E você é?...
- Renault.
- Eu sei, pá, ‘tava a reinar!
- Excusez-moi. Ah ah ah (ouvem-se gargalhadas em francês e português).
- Caro amigo, tenho de passar este dossier ao chefe. Mas por mim, tudo bem. Quanto é que está disposto a pagar?
- Não é preço tabelado?
- É e não é. Tente saber quanto é que a Skoda pagou para alugar a Praça das Flores durante 20 dias e faça as contas. Vou dar-lhe o telemóvel do Sá Fernandes e trata tudo com ele. Mas prometa-me uma coisa: depois da corrida, vai deixar-me a avenida num brinquinho, não vai?

Não acredito que a jóia da coroa desta cidade, a Avenida da Liberdade, alguma vez possa voltar a ser um “brinco”. O ruído, a poluição, as esplanadas, a indigência, os sem-abrigo, os socalcos do alcatrão, os prédios devolutos, o pulmão intoxicado, o São Jorge e os planos urbanísticos do Parque Mayer. Isto é Lisboa ou Dresden depois do bombardeamento?


António Costa não é culpado por tudo, mas pôs-se a jeito e agora parece estar à venda. A sorte dele é que o PSD planeia contra-atacar com Santana Lopes para as autárquicas de 2009. Ora, voltar a chamar Santana Lopes para Lisboa é como convidar Nero para o município de Roma e oferecer-lhe um lança-chamas. Realmente, para incendiar Lisboa prefiro António Costa. Há algo de poético no modo como ele sorri perante o enxovalho público, o delírio moral e o fim da honra.

(Crónica do METRO de 10 de Outubro de 2008)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Mal Nascida: estreia hoje o novo filme de João Canijo


Com uma filmografia de títulos como Sapatos Pretos, Filha da Mãe, Ganhar a Vida, Noite Escura ou, agora, Mal Nascida, não se pode dizer que João Canijo seja propriamente um optimista. Mas se o fosse, talvez os seus filmes perdessem metade do charme, da verdade e da acutilância que têm.

Pessoalmente, Canijo é dos meus realizadores portugueses favoritos - e dos poucos a quem se pode dizer, com toda a propriedade, que é um cineasta. Digo sempre isto relativo aos poucos técnicos que sabem como filmar aquilo que decidiram anteriormente escrever. Outros? António Ferreira, Mário Barroso, Marco Martins ou Tiago Guedes e Frederico Serra.

Parece sempre que, mesmo antes de escrever, já Canijo começou a filmar. Trata-se de um realizador de detalhe e meticulosidade, de sombras e silhuetas. Ele filma como em hipertexto: nem sempre o mais interessante é aquilo que passa no primeiro plano.

Mal Nascida chega, de certa forma, tarde demais às salas. O filme está há mais de um ano em pousio, depois de um desentendimento entre Canijo e o produtor Paulo Branco. No final de 2007, cruzei-me com o realizador num Alfa Pendular de Porto para Lisboa, e fiquei a saber da deselegância toda em primeira mão. Um vis-avis demasiado sórdido para ser descrito por palavras e por interposta pessoa. Quem distribui agora o filme é Costa do Castelo.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

God Save McQueen!

Quando a crise do subprime chegar ao Reino Unido, todos vão ter de fazer um esforço extra para garantir o estatuto intocável da monarquia. Mesmo a rainha...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Moda Lisboa | Estoril: "Reflashion"


Só faltam dois dias para o início da 31ª edição da Moda Lisboa Estoril, na Cidadela de Cascais. Tudo em http://dailymodalisboa.blogspot.com/.

Mas a notícia do dia, revelada hoje pelo jornal Público, é sobre o possível regresso da entourage de Eduarda Abbondanza a Lisboa, em 2010. Uma vez que eu estou, como se costuma dizer, demasiado "engajado" com a Moda Lisboa para me pronunciar sobre o assunto, deixo para os outros blogues as melhores blagues sobre o assunto.

Não queria contudo deixar de assinalar que a parceria financeira, logística e intelectual da Câmara de Cascais e do Casino Estoril permitiu à Moda Lisboa fazer tudo aquilo que, por minudências e burocracia, a Câmara de Lisboa não permitia fazer. Por isso, se é para acontecer o regresso da Moda a Lisboa, que seja através de argumentos sólidos e propostas concretas. Castelos no ar, jamais!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Belenenses: para o Mior e para o pior


Acabo de saber: o treinador brasileiro Casemiro Mior foi despedido do Belenenses. Fico estupefacto. Realmente os resultados das primeiras cinco jornadas não são famosos: três derrotas e dois empates. O Belém está em ante-penúltimo lugar, mas ainda tempo de dar a volta por cima.


Não é excesso de optimismo da minha parte mas noção da responsabilidade política e empresarial que é seguir um projecto que foi iniciado, ou destruído, desde a saída do treinador Jorge Jesus para o Braga. A partir de agora, e o agora é tão cedo, a missão do futuro treinador do Belenenses vai ser apenas corrigir uma época que começou torta. Isto é coisa que se faça assim tão cedo?


O maior problema é que Casemiro Mior fez uma revolução demasiado arriscada no Belenenses, cujo plantel, salvo erro, tem 15 jogadores brasileiros. Com a saída intempestiva de Mior, o que resta àquela gente? Quem vai comunicar agora com uma equipa que foi estruturada por um brasileiro com uma série de desconhecidos contratados do outro lado do Atlântico? Para o melhor e para o pior, Mior devia ter ficado: ele foi contratado para trabalhar, não para ver um trabalho interrompido por quem procura milagres instantâneos.

Olhos nos Olhos: está a chegar a mãe de todas as novelas!


A qualidade de som e vídeo não faz justiça ao original, mas não queria deixar de colocar aqui o link do You Tube para o trailer de dez minutos executado pela equipa de auto-promoções da TVI da nova novela de Rui "Tempo de Viver e Ninguém Como Tu" Vilhena, Olhos nos Olhos.

A destacar nas storylines: o bandido Paulo Pires a fazer pelo menos quatro papéis com pronúncias diferentes (e mais alguns surgirão). Pedro Granger como homossexual assumido (e por isso abandonado pela família). Marco Delgado fechado no seu apartamento (com uma doença que o impede de apanhar luz). São José Correia como psiquiatra de trazer-por-casa (incluíndo piscina). E o drama central de uma poderosa família de empresários judeus em Portugal - os Viana Levi - à beira da falência. Extra: o regresso de Patrícia Tavares à TVI e a estreia de Ana Moreira e Marisa Cruz em novelas.

O trailer abre e fecha com música de Trevor Jones para a banda sonora de Último dos Moicanos. Brandi Carlile pinta o dilema gay de Pedro Granger, os instrumentais de Michael Brook e Kronos Quartet empurram o drama para a frente, e o tema Mais que Uma Vez de João Pedro Pais embeleza a montagem do elenco.

A novela estreia amanhã à noite, terça feira, na TVI.

Dar a outra face


A Outra Face da Lua, boutique vintage chic na Rua da Assunção, na baixa lisboeta, está a saldar. Tudo ao preço da chuva, incluíndo, penso eu, gabardinas e barris de petróleo. A Carla Belchior e João Galiza dizem que "também têm babydolls da Victoria's Secret". Não sei o que quer dizer, mas parece-me aliciante. Vale tudo menos tirar olhos.


Zé Carlos: diz que é uma sub-espécie de Gato Fedorento

Não foi muito bom nem foi muito mau, foi absolutamente indiferente – e isso é muito pior. O arranque (Domingo na SIC, antes da hora prevista) da nova série dos Gato Fedorento, Zé Carlos, não aqueceu nem arrefeceu.

As audiências, que são sempre aquilo que quiserem fazer delas, deram-lhes 27.3 de share total. Ou seja, dos cem por cento que estariam a ver TV àquela hora, apenas uma-pessoa-ponto-qualquer-coisa-em-quatro estaria a ver os “gatos”. Do outro lado, a TVI transmitia o último episódio da novela Fascínios, e nem o facto de os “gatos” terem feito uma rábula (fraquíssima, diga-se) com a novela em questão serviu para animar a noite.

Talvez o target dos Gato Fedorento não seja o público de novelas. Eu acho que inesperadamente, e por mérito próprio, todos os públicos de televisão são potencialmente público dos “gatos”. Se a SIC vai cobrar aos “gatos” por isso, pelo facto de os números poderem não corresponder, é outra questão.

O que também é outra questão é o facto de, para além dos números, os gatos poderem não corresponder às expectativas de humor que propõem (um humor highbrow mas achincalhado). Domingo, visivelmente, não corresponderam. O esquema-base: Ricardo Araújo Pereira faz de pivot em estúdio, convidando semanalmente três ilustres personagens: Zé Diogo Quintela, Tiago Dores, Miguel Góis. Vai ser sempre assim? É realmente muito engraçado. E depois o que se passa? Conversa sobre os temas do dia, com rábulas metidas pelo meio, do princípio ao fim. O Magalhães, o Sócrates, o Hugo Chávez, a República, os homossexuais… e o próprio Ricardo Araújo Pereira (repescado exemplarmente de um Donos da Bola de há 15 anos!).

40 minutos depois, os “gatos” levantaram o cu da cadeira e cumprimentaram-se. Acabou? Já acabou? Foi para isto que estiveram um ano a trabalhar? Só isto? Agora talvez se perceba a mensagem subliminar dos outdoors publicitários nas paragens de autocarros do país. Os cartazes, dispondo os quatro gatos como presidiários, escrevem: “Procuram-se!”. Muita gente foi à procura e não encontrou. Estes presidiários continuam demasiado… presos.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O Pernil


A maioria das verdades universais deste mundo não vem escrita nos livros, terá de ser descoberta nos pormenores da vida vivida, preferivelmente durante uma saída à noite. Uma das verdade mais incontestáveis assegura: “Quanto maior for a qualidade da aparelhagem de som de um automóvel pior será o gosto musical do respectivo condutor”.

Outra evidência: “Uma festa de aniversário da revista Time Out não será nunca melhor que uma festa de aniversário da discoteca Lux apenas por nela servirem sushi em vez de bifanas de pernil de porco”. Principalmente se o sushi só for servido a alguns (os VIP) e o pernil for servido a todos (no Lux, todos somos VIP, incluíndo o pernil).

À partida desconfio de festas para as quais eu tenha sido convidado (a começar pelo meu funeral). Por isso, torço o nariz aos aniversários do Lux e por natureza nunca desconfiaria das festas da Time Out (não fui convidado para o 1º aniversário mas consegui entrar na zona VIP). Ora, está na altura de corrigir os preconceitos: a festa do 10º aniversário do Lux foi muito melhor.

Na noite de 2ª feira, alguém comentava com graça que, se rebentasse uma bomba na festa do Lux, a cidade deixava de ter gays. Tenho a certeza que, se tivesse rebentado uma bomba na festa da Time Out, na 6ª feira passada, no Príncipe Real, a cidade teria deixado de ter homens de calças pinçadas caqui com camisas de riscas verticais azuis-claras e jornalistas com óculos de massa.

É inacreditável que, apesar dos compadrios segregacionistas da festa da Time Out (os convidados ou eram VIP, com oferta de sushi e palito, ou apenas arraia-miúda, com cerveja a 4 euros e palito trazido de casa), ninguém tenha pensado em separar os convidados por guarda-roupa: foleiros para a direita, coquetes para a esquerda, alternativos ao centro.

Tal como na Time Out, a festa do 10º aniversário do Lux também não exigiu dresscode. Resultado? Abismal. A maioria dos convidados veio como se tivesse saído do trabalho ou de casa (e alguns deles como se tivessem saído da cama). Uma amiga galante dizia-me: “Não se pode dar liberdade a estas pessoas”. Tem razão: a ausência de dresscode denuncia os limites da imaginação estética dos portugueses, devolve-nos às tribos de origem.

Por outro lado, a ausência de regras no Lux tornou a festa libertadora, descomprometida e feliz. No Lux, a ausência assertiva de dresscode é um código em si, e sugere que as pessoas se possam “despir”. Na Time Out, o dresscode é um pormenor sem significância, e a sua ausência tende a resvalar para o overdressed (apesar da noite quente, havia rapazitos a estrear pulovers). Talvez a Time Out um dia descubra que Deus está nos pormenores. Para já, o Lux sabe que os pormenores estão numa bifana com pernil de porco a meio de uma noite de início de semana. E isso é divinal.

(Crónica do Jornal Metro de 3 de Outubro de 2008)

O Debate dos Vice-Presidentes!

Qual Benfica, qual carapuça! São quase duas da manhã e a SIC Notícias prepara os seus comentadores universais para o debate entre os vice-presidentes escolhidos pelos candidatos à Casa Branca: Joe Biden pelo lado de Barack Obama contra Sarah Palin, a polémica governadora do Alasca, de John McCain. Do lado de cá, em directo e em cima do acontecimento, os analistas globais Martim Cabral e Nuno Rogeiro garantem as dobragens pela SIC Notícias. Quem fará de Sarah Palin? O Rogeiro é melhor no falsete...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Multibanco: o facelift


Com "apenas" vinte e tal anos de vida, o Multibanco decide fazer o seu primeiro facelift. Em vez daquele boneco idiota que nos sorria cada vez que o nosso saldo se apresentava em défice, a partir de hoje passamos a ter um boneco azul sobre fundo negro, uma espécie de petit-four gótico vestido com a camisola do Inter de Milão (logo que possa, publico uma imagem do boneco). Claro que o conteúdo do multibanco se mantém igual: o saldo dos portugueses não lhes permite efectuar esta ou qualquer outra operação.


Quem és tu Zé Carlos?


Contagem decrescente para o regresso dos Gato Fedorento à tradicional programação televisiva, a tal que habitualmente intervala com a publicidade (onde, como se sabe, e desde o relançamento da Meo, os gatos são omnipresentes).

Nunca fui incondicional dos Gatos e, por isso, no próximo domingo na SIC, irei apenas ver a nova série à condição (ou para que a minha apreciação posterior neste blog possa mais tarde vir a ser citada pelos jornais de renome, de maneira a eu conseguir também garantir intervalos para publicidade ao meo, perdão, ao meu blog).

De qualquer forma, e apesar da campanha massiva da nova série em várias "plataformas", incluíndo imprensa, rádio, outdoors ou web 2.0 (desde Hi5 ao messenger), o destaque dado pela homepage da casa-mãe, a SIC, é incrivelmente tímido (para não dizer mal-cheiroso). Por isso, deixo aqui o link directo, em directo para a palhaçada!

http://sic.aeiou.pt/online/entretenimento/gatofedorento

2001: Odisseia no Espaço

A partir de hoje, e através deste link (http://www.google.com/search2001.html), será possível recuperar a homepage original do Google de... 2001. Ou seja, tudo o que tenham sido actualizações desde Janeiro 2001 - tanto o 11 de Setembro como o Cristiano Ronaldo - ficaram de fora. Façam a experiência com pesquisa nos temas mais badalados dos últimos tempos e acabam a apanhar bonés.

José Mourinho 2001? "Prepara a viagem do Benfica aos Barreiros no Funchal". Barack Obama 2001? Apenas um perfil como simples senador. You Tube ou My Space 2001? Ainda não existiam. Soraia Chaves 2001? Remete para uma página da Terràvista que, evidentemente, já não existe. É natural, metade do mundo de 2001 já não existe hoje.

http://www.google.com/search2001.html