terça-feira, 30 de setembro de 2008

Mamma Mia: 500 mil fãs não podem estar errados. Ou podem?


A informação é da Lusomundo: em Portugal, Mamma Mia acaba de chegar ao número astronómico de 500 mil espectadores. Em quanto tempo? Três semanas. Meio milhão de portugueses foram ver um musical sobre os Abba e eu ainda não tive a oportunidade? Uma pouca vergonha da qual me pretendo redimir rapidamente.

Será que 500 mil espectadores significam um pacto de paz entre o cinema e o público? Bem pelo contrário, poderá ser a sentença de morte que faltava à política de distribuição de cinema em Portugal. Céptico, eu? Sem dúvida. Um número destes só é possível através de uma campanha e distribuição massiva de cópias do mesmo filme por centenas de salas multiplexes (alguns dos centros comerciais têm o filme em exibição em mais do que uma sala).

Com resultados destes, quem pode pensar que este modelo de distribuição é condenável ou está errada? Ninguém. Acontece que num país tão culturalmente insignificante como o nosso, a Lusomundo não funciona como estímulo mas como bulldozer. Em vias disso, toda a política de distribuição alternativa está à partida arruinada, não é rentável.

Não se pode portanto apenas concluir que 500 mil espectadores portugueses quiseram ir ver Mamma Mia mas sim que 500 mil espectadores não tiveram alternativa senão ver... Mamma Mia.

O Jardim Assombrado

O novo blog da jornalista e escritora Carla Maia de Almeida já se lê.
"O Jardim Assombrado abriu os portões no dia 26 de Setembro. Convido-vos a entrar. Há bancos ao sol e à sombra". Toca a todos.

http://ojardimassombrado.blogspot.com/

O 10º aniversário do Lux (III)

Deixei meia dúzia de fotos tiradas em directo da noite do Lux.
Enjoy!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

IX Festa do Cinema Francês (II)

Começa já esta semana, com a projecção de Les Femmes de L'Ombre (com Sophie Marceau, Julie Depardieu e Marie Gillain), no cinema São Jorge, no dia 2, às 22h, e prossegue durante os próximos dois fins de semana, em Lisboa (até dia 12), continuando por Almada, Coimbra, Porto e Faro até 2 de Novembro. É a IX Festa do Cinema Francês, com programação repartida entre o São Jorge, a Cinemateca e o Instituto Franco Portugais, na Rua Luís Bívar.

As minhas escolhas vão todas para o São Jorge.

Dia 4, 17h
Le Premier Cri, documentário de Gilles de Maistre sobre a coincidência do nascimento nos quatro cantos do mundo.


Dia 6, 22h
Ce Que Mes Yeaux ont Vu, de Laurent de Bartillat, com Sylvie Testud, sobre uma mulher obcecada pelos quadros de Watteau.


Dia 10, 22h
Paris, de Cédric Klapisch. O realizador de Residência Espanhola e Bonecas Russas volta a insistir no seu actor-fétiche, Romain Duris. Mas a companhia residencial de Juliette Binoche sugere drama em vez de comédia.


Dia 11, 19h30
Un Baiser s'il Vous Plait, de Emmanuel Mouret, com Virginie Ledoyen e Julie Goyet. Romance de desencontros e desencantos com um pezinho em Truffaut.

Dia 11, 22h
Promets-Moi, de Emir Kusturica, a habitual comédia balcânica do realizador de Gato Preto Gato Branco, desta vez com o seu filho Stribor Kusturica.


Dia 12, 15h
Faubourg 36, o novo de Chistophe Barratier, realizador de Os Coristas, é uma espécie de sequela, com uma história sobre a recuperação de um teatro francês nos anos 30.



Dia 12, 22h
Le Silence de Lorna, dos irmãos Dardenne ("Rosetta"). Com Arta Dobroshi, uma albanesa a tentar sobreviver na Bélgica.


EXTRA
Dia 9, 19h, na Cinemateca
Monsieur Klein, clássico de 1957 por Joseph Losey, com Alain Delon e Jeanne Moreau, sobre um oportunista comerciante de arte durante a ocupação de alemã de Paris.



Travis: "Ode to J. Smith" (2008)


O Pirata comunica-me que o novo álbum dos Travis, Ode to J. Smith, já está disponível para sacar, sacanagem. Onde? Nos sítios do costume. Eu vou sempre pelo mesmo caminho: na secção de blogs do google.com (e não google.pt) escrevo o álbum que me interessa descobrir, para download ou apenas streaming, e há sempre um destino ao meu alcance.

Os Travis, que não são parvos, conseguiram interromper o download ilegal pelo rapidshare, mas é possível aceder a um descarregamento alternativo do disco através do megaupload. Por vossa conta e risco.

O 10º aniversário do Lux (II)


Pela primeira vez na internet, eis a versão integral da crónica que publiquei há dois anos no Jornal Metro sobre o oitavo aniversário da discoteca Lux.



"O meu grau de egocentrismo é tão elevado que eu agora só compro jornais para ver se saiu a crítica ao espectáculo que presenciei na noite anterior. Mas como, muitas vezes, o grau de alcoolémia excede o do egocentrismo, também compro jornais para que eles me ajudem a recordar a noite anterior. Sabendo que ninguém irá escrever sobre a festa “secreta” da noite de 3ª feira na discoteca Lux, decidi avançar".



"As festas de aniversário do Lux são tão populares que quando se chega à entrada ainda se vê os convidados a abandonar a festa do ano passado. Lá dentro, ninguém sabe quantas pessoas cabem, mas cabe sempre mais um. Segundo consta, na festa de 2005 entraram 5 mil à pala. Este ano, alguém fidedigno (o que é fidedigno às três da manhã com nove vodkas em cima?) confessou-me que a gerência só enviou 2800 convites para a populaça. Fazendo as contas, isto significa que 2 mil espoliados se sentiram como Plutão. Mas este sistema ultra-selecto continua a falhar: afinal de contas, eu recebo sempre convites. Não adianta mudar de casa, o mailing do Lux é mais eficiente que a Dica da Semana. Todos os anos estou aqui caído (antes de cair por ali)".



"Receber convite é um início, mas não basta para fazer a festa – é preciso entrar na festa. Este ano, os convites exigiam uma password que apenas podia ser encontrada no DVD enviado com o convite. O DVD era um filme com imagens dos filmes de Fellini e Almodovar que serviriam para inspirar o dresscode do convidado. Como se viu na afluência de pessoal com fatos de padres, travestis e árbitros de futebol, a inspiração foi levada a sério (o Pedro Rolo Duarte vinha disfarçado de Pedro Rolo Duarte). Eu comprei um chapéu de gangster e inventei uma personagem. “E você vem de quê?”, perguntaram à entrada. “Vim a pé, por causa do álcool”. “Mas que personagem é essa?”. “É o Professor Gonzaga”. “Quem é o Professor Gonzaga?”. “A menina viu todos os filmes do Fellini, quer chamá-lo à entrada para confirmar?”.

E lá dentro, sobra o quê? Sobram três horas de ânsia etilizada e conversa ansiolítica. Na festa do Lux, o bar é aberto e as relações também, portanto pode-se descobrir o amor. O facto das pessoas levarem máscaras ajuda. Tudo parece belo, todos parecem bonitos. Excepto a partir das três da manhã quando começamos a levar tanta pancada que nos sentimos como a bola branca de um jogo de snooker".



"É estranho o sortilégio das festas do Lux. Demoramos duas horas a entrar e cinco minutos à procura da saída. Fazemos o possível para encontrar lá dentro aquela pessoa que já encontrámos cá fora, mas com quem não falámos porque estávamos demasiado ocupados a tentar entrar. Uma vez dentro do Lux, a conversa é sobre as pessoas que faltam entrar. Quando já entrámos todos, é altura de sair. Cá fora, o ritual repete-se. Talvez sejam as pessoas a enfileirar-se para a festa do próximo ano".



(Crónica do Jornal Metro de Outubro de 2006)

Quem como onde quando porquê?


Quem, como, onde, quando e porquê? São estas as cinco regras elementares do jornalismo que vejo sistematicamente negligenciadas em grande entrevistas televisivas (onde apenas uma vez por programa é identificado o nome do especialista convidado a intervir sobre determinado assunto) e reportagens, entrevistas ou perfis de imprensa.


No suplemento do Público P2 do passado domingo, no destaque dado por Teresa de Sousa a um senhor de bicicleta, a regra principal (quem era?) foi liminarmente empurrada para segundo plano: embora se tratasse de um perfil sério, não percebíamos nunca quem era o “ciclista” visado. Só ao 11º parágrafo, décimo-primeiro, meus senhores, a autora Teresa de Sousa mencionava alguém chamado “David Cameron”, líder do Partido Conservador Britânico. Que por acaso também anda de bicicleta.

Parte da culpa não é de Teresa de Sousa mas da editoria. Percebe-se que, na opção do título mais sensacionalista (“Ele vai ter de provar que também é líder em termos de crise”), o nome de David Cameron possa ter sido sacrificado.

O mesmo terá acontecido no lead de abertura, um súmula de frases constantes no próprio texto. Seja como for, a partir da primeira frase, a responsabilidade é de Teresa de Sousa, que, apesar da sua experiência, caiu na armadilha de pressupor que os seus leitores conheciam bem David Cameron (quem não conhece, bolas?), escrevendo um texto com frases como “o jovem de 39 anos”, ou “o Tony Blair do Partido Conservador”, sem nunca mencionar o nome do “ciclista” em questão.

Note-se que até ao final do extenso perfil, só quatro vezes é referido o nome de David Cameron. A penúltima frase é elucidativa: “Quem é afinal David Cameron?”.

A Rua de São Bento

A minha sobrinha Laura, de onze anos, escreveu no seu blogue As Coisas da Laura sobre as festas na Rua de São Bento, na passada sexta feira, em que os antiquários estiveram abertos ao público até às 24h. Também estive de passagem, e subscrevo aquilo que a Laura tão bem descreveu.



"Quando lá chegámos, encontrámos logo umas raparigas pintadas e com vestidos a entregar rosas (a que a minha mãe dizia ao meu irmão mais novo que eram fadas)... Ficámos ao pé da Assembleia, a ver umas danças, até que começámos a ouvir gente a cantar (que era o que a minha mãe procurava). Fomos para lá e vimos duas amigas da minha mãe a cantar... Era um grande coro, e cantavam muito bem.

"Entretanto, enquanto estávamos a seguir caminho, eu encontrei gente a pintar quadros, pintavam tão bem que me apetecia pegar nos pincéis e aprender com eles. Continuámos e voltamos a descer para ou pé da Assembleia, encontrámos um senhor mascarado de mergulhador a fingir que estava a nadar. Depois, foi para lá uma rapariga vestida de branco que começou a fazer movimentos de dança lenta. Começaram a vir crianças ter com ela e a querer dançar com esta (tinha um chapéu de chuva grande e branco). Depois, uma das crianças pegou no chapéu e começou a rodá-lo, bateu na cabeça da rapariga, mas para ela não se chatear com eles e não estragar a dança, não reagiu muito...".

http://laura-a-somsen.blogspot.com/

domingo, 28 de setembro de 2008

Benfica 2-0 Sporting


No final da temporada passada, antes da Espanha ser campeã da Europa, antevi uma única solução para o Benfica dar a volta por cima: contratar um jovem treinador espanhol, qualquer um que fosse. Um mês depois, Quique Flores era apresentado como treinador do Benfica. Há esperança?

Os dois primeiros meses de Quique foram tão tremidos como pareceram ter sido gloriosos os do Sporting. Mas num jogo tudo pode mudar. Quique ganhou ao Sporting (2-0), depois de ter ganho ao Paços de Ferreira (4-3) e, para já, como dizia o outro, está tudo bem. Pode ser que daqui a uns dias, quando jogar com o Nápoles, para a Taça UEFA, deixe de estar (como dizia Scolari, é o jogo do mata-mata).

Não vi o Benfica-Sporting de sábado com a atenção que o acontecimento merecia. Mas creio que foi um jogo de zero-a-zero que teve o acaso de dois golos. Insuportável o rosto de júbilo vingativo do ex-sportinguista Carlos Martins, depois de centrar para 2-0 do "seu" Benfica. Parece que mais importante que se ser assertivamente a favor de determinado clube (o seu Benfica) é ser-se assertivamente contra o seu antigo clube (o Sporting).

Carlos Martins não tem razão para ser rancoroso ou ressabiado: se determinados clubes deixam de acreditar nos seus atletas (como aconteceu a Paulo Bento com Carlos Martins no Sporting), é porque os atletas há muito deixaram de acreditar na fidelização aos clubes. Como é que o Carlos Martins acha que vai gerar boa-vontade, com má fé?

Penso, Blog Existo


Queria agradecer ao Paulo Ferrero, do blogue alfacinha Carmo e a Trindade, ao João Villalobos, do polissémico Corta-Fitas, e ao Paulo Pinto Mascarenhas, do pluridisciplinar Atlântico, a fé que despositaram ou continuam a depositar nos meus disparates. Apesar de tudo, e contra todos, vão espalhando a palavra, e isso motiva-me a encontrar novas formas de a escrever. As minhas desculpas por, neste primeiro mês de vida, ainda não ter criado uma lista selectiva dos blogues que vão animando e aninhando o meu dia-a-dia. Se eles a mim chegaram, a eles chegarei também.

http://atlantico.blogs.sapo.pt/
http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/
http://carmoeatrindade.blogspot.com/

O 10º aniversário do Lux (II)

Deixo aqui um pequeno texto que escrevi há seis meses para um guia da cidade de Lisboa oferecido pela revista Rotas e Destinos, a convite de Catarina Palma. A foto é do mais-que-tudo Pedro Sampayo Ribeiro. Com cortesia.


"Há dez anos era o requinte do alternativo. Depois, o Lux foi-se adaptando à biodiversidade da cidade, e os públicos começaram a misturar-se, o que criou primeiro a snobeira do cliente de elite, e depois a eliminação gradual dos menos fiéis. Agora, o Lux é tudo e sempre mais alguma coisa. Mesmo que a cidade exija uma nova alternativa, nunca poderia existir um segundo Lux na cidade, apenas uma cópia deficiente ou o outro lado do espelho. O Lux não é bem uma discoteca, é mais um bairro. E, no bairro, todos se conhecem pelo nome".

O 10º aniversário do Lux


Faltam menos de 24 horas para a festa do décimo aniversário da discoteca Lux e... começa a chover. O retrato aqui publicado foi tirado sábado à tarde, com sol, à porta de minha casa, com vista para o Lux, e refere-se aos preparativos da cenografia da festa: o que se vê ao fundo são duas réplicas de pernas de mulher que irão ser decerto colocadas na entrada principal do recinto. Um convite kinky? Sugiro para já esta tagline: aqui onde as pernas se encontram, vamo-nos perder. Tudo bem, desde que não chova.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sydney Pollack na Cinemateca


A vida corre-nos tão aceleradamente nas veias que não temos tempo para dar valor ao nascimento ou homenagear os que partiram. Se a Cinemateca de Lisboa nunca foi muito dada a celebrar os novos valores, não podemos desdenhar a dedicação que revela para com o património dos mortos. E, se calhar, se não fosse a Cinemateca, nem eu me lembrava que Sydney Pollack, que um dia entrevistei na Penha Longa, tinha morrido este ano (Maio).


Para Outubro, as salas da Barata Salgueiro prometem um ciclo com 13 dos mais importantes filmes do cineasta americano. Os meus favoritos continuam a ser os da geração de 70, que, evidentemente, só vim a descobrir mais tarde (quando recomecei a ver cinema nos anos 80): Os Cavalos Também se Abatem (dia 3), os Três Dias do Condor (dia 14) e Yakuza (dia 29). Como extra, a Cinemateca exibe ainda De Olhos Bem Fechados, de Kubrick, com Pollack como actor.

Outros filmes a ver: A Calúnia (dia 15), Tootsie (dia 16) e o fracassado mas estimulante Encontro Acidental (dia 17), com Harrison Ford e Kristin Scott Thomas. De fora, ficam A Intérprete, com Nicole Kidman, e o subvalorizado A Firma, com Gene Hackman nas suas sete-quintas. Próxima homenagem plenamente justificada: Anthony Minghella, o realizador de Paciente Inglês, que morreu em Março, depois de uma operação a um tumor no pescoço.

X-Wife Vs Saul Bass


A espectacular Rafaela Ribas, manager de bandas como X-Wife e Easyway, e de alguns corações solitários também, manda comunicar que o concerto de apresentação do novo álbum dos X-Wife, a realizar no Passos Manuel no Porto, será igualmente transmitido em directo pelo site da RTP no dia 25 de Setembro.


O álbum chama-se Are You Ready For The Black Out?, tem colaboração da vocalista Raquel Ralha, dos Wraygunn, e foi antecedido do single, On The Radio. Ambos os trabalhos apresentam layout gráfico (do próprio João Vieira) que é homenagem ou cópia simpática dos posters de Saul Bass para os filmes de Hitchcock e Otto Preminger.



Laika: no espaço ninguém nos ouve ladrar


Laika, Albina e Mushka. Em 1957, foram três as cadelas recolhidas pelos cientistas nas ruas de Moscovo para iniciar os testes que garantiriam algum avanço na promessa soviética de enviar a primeira criatura viva para o espaço.


O projecto da Sputnik-2, em Novembro de 57, fora sugerido por Nikita Kruschev ao fundador do programa espacial soviético, Sergei Korolev, para assinalar os 40 anos da Revolução Bolchevique de 1917. Korolev planeava para Dezembro o envio da Sputnik-3 e teve de acelerar um protótipo menos ambicioso (a Sputnik-2), para corresponder às exigências do politburo. Laika, raça husky com sangue terrier, acabaria por ser “a eleita” para a viagem de ida. Tinha 3 anos quando se tornou astronauta.


A cabine de Laika estava equipada com comida e água. Uma câmara de filmar e um sistema de sensores registavam a temperatura da cabine e os sinais vitais do animal. Seis dias depois da descolagem da Sputnik 2, o sistema eléctrico do aparelho entrou em colapso. A nave ficou à deriva 164 dias, antes de reentrar na atmosfera em Abril de 1958.


São contraditórios os relatos sobre o fim da aventura: há quem diga que Laika terá apenas sobrevivido 4 dias no espaço, outros asseguram que o animal morreu devido ao sobreaquecimento da cápsula depois de 7 horas de voo. Mais do que o memorial inaugurado em Moscovo, em Abril de 2008, Laika merecia hoje um museu ou feriado nacional.

(Texto publicado na revista Rotas e Destinos de Julho 2008)

A Laura de Aula


A minha sobrinha Laura, de onze anos, já tem o seu blogue, o que causou um certo orgulho e embaraço ao pai, que não tem. Em As Coisas da Laura, a Laura relata como ninguém o seu primeiro dia de escola.

"Mal todos entraram fizeram muito barulho, mas um pouco depois de o professsor chegar e pedir para nos calarmos manteve-se o silêncio. Quando alguns dos piores da turma chegaram destruíram o silêncio e começou imediatamente a barafunda.

A outra professora era como muitos outros, sustentava-se com os gritos, não deixava fazer nada e.t.c. Eu mesmo assim continuava a achar que esta era uma boa professora.

A aula seguinte foi Matemática tivemos a apresentação, mas também tivemos aulas, surpreendentemente a nossa professora de Matemática deu-nos aulas no primeiro dia em 45 minutos e com a parte da apresentação".

http://laura-a-somsen.blogspot.com

Lost and translation

Estes poemas fazem parte de um projecto que não concluí. Nunca me passou pela cabeça traduzi-los, muito menos publicá-los. As minhas inspirações, William Wordsworth e João Villalobos, haveriam de rir-se jocosamente e eu não suportaria semelhante humilhação.

I
Dare we go into the night? Tenderly beware.

To fight, I might step outside my shell.
But rather I linger in-between, than to cope the scope of hopelessness.

II
Mighty shiver the lovequake, by dawn's delight.

Bygone the sorrow must you send, as I kiss your babywords intertwine.
For such they are of mine.

Before I sleep, before I am.

III
Shed the tear, breathe the sorrow, for my pain has gone to morrow.

Everlasting heartache, this sounds of life to-be; slipping raindrop kisses, like you are to me.

IV
This sea longs for you, as I wave in the distance.

Tidy up ashore windy soul, for we've met before.
No arms, no rags, just a bare vessel with no oar.
Nor here.

V
I've lost my love to-day; and myself for good.

This weekend has no end; to begin with.
Will I have to stand up weak; to be without?
Time lapses thy fading glory.
This mourning memory, recoil your morning glimpse.

VI
Hell, I will fall if I have to.

If I have to follow you through.
And hide this wholehearted self, from your cold-hearted soul.
If by cowardly means, any blatant gesture may mend the end; I will fear no evil as I scare myself.

VII
Why read, what to write?

Get rid of me for a night.
Quiet restlessness, cried her.
"How wrong, to be right".
How come, not to fight?
And he sobbed, facing the child.

O segundo sexo


Agora que se discute novamente o casamento de homossexuais, não resisto a publicar uma crónica que assinei no jornal METRO em Fevereiro de 2006, um ano antes da legalização do aborto. Com as devida distâncias temporais, o texto continua fiel ao tempo do meu pensamento.



"A semana passada, duas mulheres tentaram casar em Portugal. Claro que não o conseguiram. A lei é dura e não permite grandes marginalidades. Ironicamente, elas tentaram fazer aquilo que poucos portugueses fazem – cumprir a lei. Foram e voltarão a ser punidas (nem que seja através da exposição mediática) se repetirem a tentativa. Evidentemente, o objectivo das duas mulheres não é apenas casar, mas fazer ver ao país a injustiça que é não o poderem fazer. De qualquer forma, o evento serviu para levantar uma série de discussões no país dos cidadãos e entre os cidadãos do meu país.

Tudo o que seja tema de minorias é território armadilhado. Uma palavra e é-se de direita; uma defesa, e viva o bloquista. Nada de maniqueísmos, que isto não é preto no branco. A questão essencial é simples: qual o interesse dum casal homossexual numa instituição eminentemente heterossexual e conservadora como o casamento? Está lançada a primeira armadilha. Os portugueses acham que o facto de os homossexuais serem uma minoria os impede de ser conservadores. Os portugueses acham que todos os homossexuais jantam na Bica do Sapato, dançam no Lux e votam no Louçã. Evidentemente, a maior parte dos portugueses evoluídos tem imensos amigos que são homossexuais. Pessoalmente, acho que a maior aberração não é o facto de dois homossexuais querem casar, mas o facto de ainda acreditarem no casamento.

Este tratamento dúbio do homossexual como um freak de trazer-por-casa tem sido danoso para todas as partes. Principalmente para a comunidade gay, que subitamente vê os seus direitos discutidos na praça pública como se fosse os Malucos do Riso. Os políticos, claro, aproveitam-se; e a luta desenfreada pelo direito das minorias faz com que as minorias estejam a ser tratadas com uma excessiva preferência e não com a igualdade devida. Como se vê, é muita teoria para tão pouca prática. Na ausência de direitos civis óbvios, criam-se sempre elementos de excepção – mas nunca direitos concretos, direitos que deveriam existir por cidadania e nascimento em cada português. Se os homossexuais estão recenseados, vão à tropa e pagam impostos, por que não hão-de querer casar? Tirando a igreja (por razões seculares evidentes) nada ou ninguém deveria impedir o casal homossexual de ter o Toy a cantar no respectivo copo d’água.

Por defeito, feitio ou simples decadência moderna, o casamento deixou de ser um fim (moral) para passar a ser um meio (patrimonial). Neste país, toda a gente casa para ter mais uma semana de férias, garantir o abono de família e receber uma palmadinha nas costas do padrinho. Ninguém se opõe. Os gays também querem ter direito à moral vigente, ao calculismo individual, à mentalidade malthusiana. Os homossexuais querem poder viver sem sobressaltos, dividir a riqueza pela família chegada (o “longtime companion”) e assumir que o Estado interveniente vá exercer o seu imposto testamentário sobre a herança a dividir pelo cônjuge que sobrevive ao casamento. Que mais se pode exigir ao homossexual, que ele seja do Benfica?

No dia seguinte, o PS e o PSD confirmaram à nação que o casamento entre homossexuais “não é uma prioridade”. Seria bom que não fosse prioritário pela simples urgência em recuperar um verdadeiro caso de saúde pública e não apenas de moral, como é a discussão do aborto. Dessa minoria tão portuguesa chamada “mulheres”".


(Crónica do Jornal METRO de 6 Fevereiro de 2006)

A Avenida 5 de Outubro


Todos os dias é a mesma falua: a Avenida Cinco de Outubro, em Lisboa, entupida com o estacionamento "provisório" em segunda fila e, do outro lado da rua, a diligente brigada da EMEL a autuar todos os bandidos que excederam em dois minutos ou dez cêntimos o prazo legal para estacionar (onde realmente se deve estacionar).

O problema daquela avenida é sintomático do estado a que isto chegou: a EMEL foi criada para fiscalizar os lugares de estacionamento e, segundo a opinião generalizada, não deverá nunca exceder a sua autoridade ou acumular outras funções (de policiamento). Portanto, quem irá resolver este berbicacho, quem irá impedir as cargas e descargas, os quatro piscas ou a segunda fila que sobrevive impunemente na estrada? A Administração Interna, o Batman, o Robin dos Bosques?

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Finlândia vs Portugal

Há um ano, passei uma semana nos lagos da Finlândia. O país é uma paz de alma, por isso surpreende que, subitamente, um jovem decida pegar numa arma e matar nove estudantes, como sucedeu esta manhã numa escola a norte de Helsínquia.

Como diz um dos mais esclarecidos amigos meus, terá sido decerto um jovem contratado pela Administração Interna da Finlândia para garantir assim um índice mínimo de criminalidade que justifique a existência de braços de autoridade no país.

Em relação a isso, Portugal funciona com melhor eficiência: ninguém precisa de pagar aos bandidos para eles assaltarem bancos ou multibancos, basta deixar-lhes a costa livre para assim se criar na nação um clima de terror que imediatamente convoque medidas repressivas de autoridade extrema nos cidadãos e agentes do Estado.

TVI: O hábito faz o monge

Apesar da excitação do jogo de futebol em si, a transmissão do Paços de Ferreira x Benfica (3-4) ontem na RTP1 não foi suficiente para o canal do Estado ganhar as audiências do dia - nem sequer do prime time. Razões? Como sempre, as novelas da TVI. Ou melhor, a TVI.

É uma questão de habituação e vício. Se por acaso a TVI emprestasse por um dia as suas três novelas da noite à RTP1 em troca de um jogo do Benfica ou um "desnudo" com o José Carlos Malato, as audiências não iriam acompanhar as intrigas das novelas, ficariam sempre na TVI, independentemente da programação e dos nus.

Não querendo menosprezar a actividade dos nossos públicos, isto só serve para realçar o modelo de fidelização solidificado por José Eduardo Moniz (que ontem fez 10 anos de TVI).

O que nos falta inventar?


É incrível que o homem tenha ido à lua, que exista o GPS ou os google.maps, que seja possível transplantar um coração humano ou recuperar a virilidade com o Viagra. É impressionante que já se construam casas domóticas ou carros híbridos, que a nanotecnologia seja uma realidade presente, que se tenha desenvolvido uma indústria de recolha de células estaminais e que a música não precise de suporte físico para ser ouvida. É notável que o Cristiano Ronaldo marque golos de calcanhar, que tenhamos evoluído para aquilo que hoje somos com as coisas que hoje temos, e que, no entanto, certas coisas elementares ainda estejam por inventar. A saber:

Uma chucha anti-gravitacional que nunca chegue a cair no chão depois de cuspida pelo bebé. Um automóvel familiar amigalhaço que assinale a sua presença quando o seu proprietário não souber onde o deixou estacionado no parque de estacionamento do centro comercial (e cujas chaves assinalem a presença ou mandem sms para telemóvel quando o seu proprietário não souber onde as deixou arrumadas em casa). Um jornal diário escrito sem erros e que assim possa dispensar o Provedor dos Leitores. Se preferível à prova de água e de vento (o jornal, não o Provedor).

Um ice tea com sabor a chá (e não a manga-laranja ou kiwi-maracujá). Batatas fritas que façam bem. Spray com perfume de carro novo que recupere o cheiro original do automóvel no primeiro dia em que o conduzimos. Uma empregada de limpeza que também limpe o pó debaixo da cama e não venha com histórias de subsídios de férias e de Natal. Peúgas de nylon de titânio, para nunca fazerem buracos. Um comando à distância capaz de regular os níveis de volume da conversa e opacidade das pessoas à frente do televisor no dia do derby de futebol. Passadeiras de peões que, quando atravessadas por humanos e animais vertebrados, pulverizem todos os veículos de quatro ou duas rodas em circulação na proximidade (excepto carrinhos de bebés).

Técnicos informáticos que falem a nossa língua. Automóveis com direccção assistida e lugar de estacionamento incluído no porta-bagagens. Pipocas silenciosas ou capazes de silenciar o respectivo deglutidor. Ares condicionados portáteis e individuais, para que cada um tenha a temperatura que deseja. Liberdade enlatada, para cada qual ter o espaço que merece. Telemóveis com polígrafos, para todos percebermos quando é que a conversa do outro lado é tanga.


Uma tabela de audiências que determine quantas pessoas andam a fazer o quê quando não estão a ver televisão. Cigarros que se possam fumar na totalidade dentro da boca (para assim não incomodar ninguém fora dela). Emissões de rádio capazes de nos informar sobre o nome da banda e da música que está a tocar sem termos de esperar pela conversa, o humor ou a pronúncia rachada do animador. Uma página na internet que funcione apenas como espelho, para dar um jeito no cabelo ou ajustar a gravata antes da reunião das 15h00. Um processo químico que permita transformar a mentira, o dislate, a intriga e crónicas como esta em energia barata e auto-sustentável, dedutível nos impostos.

(Crónica do Jornal METRO de 4 de Abril 2008)

Promessas, promessas

São quase 03h00 da manhã. Os noticiários anunciavam aguaceiros, trovoadas, chuva, enfim, o fim do mundo no pingo do Outono. Até agora nada. O céu está limpo, a noite embala-nos. Pelos vistos bastou um Dia Europeu Sem Carros para a atmosfera dissipar a sua nebulosidade e pessimismo. Amanhã regressa o CO2 à cidade. Viva. Ou melhor, sobreviva. E sim pode voltar a estender a sua roupita.

Quinze a um

Umas horas depois do meu texto sobre a pobreza franciscana da I Liga, e eis que o Benfica decide ganhar em Paços de Ferreira por 4-3. Sete golos num só jogo? Parece impossível. O comentador da RTP recordava com saudade a última vez que os encarnados haviam marcado quatro golos fora de casa, em Leiria há dois anos (com hat-trick de Miccoli).

Será caso para guardar esta data de 22 de Setembro como referência para daqui a dois anos? Talvez. Seja como for, o jogo foi giro - na capital do móvel, houve mobilidade e golos. E mais uma vez se provou a tendência dos clubes pequenos se engrandecerem perante os clubes grandes, para uma semana depois encontrarem a sua real dimensão contra adversários da mesma estatura, sem qualquer sombra ou estética de vencedor.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Dia Europeu: 100 Carros


Aproveitando a inesperada pontualidade que é a consagração do Dia Europeu sem Carros, recupero três parágrafos de um texto que publiquei há três anos no Jornal METRO. De 2005 para hoje pouco ou nada mudou, excepto talvez a quantidade de CO2 emitido diariamente dos nossos paquidermes motorizados para a Avenida da Liberdade.

"O Dia Europeu Sem Carros significa que a Europa fica sem carros por um dia e o trânsito em Portugal fica como se todos os carros da Europa estivessem em Portugal no mesmo dia e à mesma hora (ou seja, entre as nove e dez da manhã duma segunda feira à entrada da Segunda Circular ou saída Campo Alegre na VCI). Portanto, como acontece todos os dias e todos os anos, a primeira coisa que fiz quando saí de casa no Dia Europeu Sem Carros foi pegar no meu automóvel e avançar lépido para estrada.

Eu gosto muito de conduzir. O facto de conduzir cerca de 40 quilómetros por dia (ida e volta do trabalho) significa que muito do prazer se banaliza e automatiza. O carro não se torna a extensão freudiana das minhas frustrações, bem pelo contrário: acabo por ser eu a extensão tecnológica do automóvel, e é ele que me conduz a mim (a única coisa que depende de mim será a escolha da música no auto-rádio, a cor do colete reflector e o vernáculo das ofensas a declamar ao energúmeno que subitamente entrou pela direita). Ao contrário de mim, no entanto, acho que os portugueses não gostam muito de conduzir – eles gostam é de ultrapassar. Preferivelmente de ultrapassar outros portugueses.

Ontem, quando saí de casa no meu automóvel, encontrei um rafeiro distante parado numa passadeira de peões. O pobre do animal não sabia o que fazer do Dia Europeu Sem Carros – se aproveitar para assinar os pneus dos automóveis da vizinhança com o seu chichi ou meter-se à estrada com os outros donos de rafeiros lisboetas. Deixei-o atrelado à sua abstracção e fui ter com os outros animais – aqueles que habitualmente me reconhecem na estrada e condignamente trato abaixo de cão".

(Crónica do Metro de 22 Setembro 2005)