Deixei de estudar há 16 anos. Decidi que, no dia em que conseguisse fazer a cadeira de Direito Internacional Privado do sofrível curso de Relações Internacionais da Universidade Lusíada, iria tirar férias para sempre. Tenho sido fiel a esse princípio: nunca mais me esforcei para aprender sem amar ou sem ter a curiosidade de saber, e seria talvez uma das piores referências do jornalismo nacional se pudesse ser considerado jornalista (não tenho carteira profissional nem carta de condução de pesados). No dia em que acabei o curso, fiz como Sartre, leitor omnívoro, quando confrontado pela mãe: “O que vai fazer o menino depois de ler esses livros todos?”. Sartre: “Vou vivê-los”.
Vivi os últimos 16 anos com pesadelos de exames e provas por repetir, de orais compulsivas e horários restritivos, e todos estes dias acordei para o sonho que é uma realidade sem escolas e professores, sem modelos de conduta ou bases de moral que não sejam aquelas transmitidas pela poesia vivida da minha família, dos meus amigos ou das minhas mulheres. Aos 10 anos, a minha mãezinha alertou-me: “Agora que chegas ao liceu, prepara-te. Se faltares um dia a uma aula, não terás o professor a ensinar-te a matéria no dia seguinte”. Decidi que seria um bom princípio faltar menos vezes que os professores.
São poucas as memórias que guardo do secundário: talvez uma professora de Inglês que adorava os meus olhos azuis e outra de Físico-Química que vaticinou a minha miopia. Teria sido maior a minha desilusão se a professora de Química tivesse descoberto que a de Inglês era míope? A grande libertação da adolescência foi ter-me permitido questionar a formação em curso. Com 14 anos, a professora de História do Liceu Sebastião e Silva, em Oeiras, decidiu fazer um “texte”. Ainda perguntei a um colega: “Teste não está mal escrito?”. Ele: “Não faças perguntas, responde ao texte”.
Tudo o que sei sobre os limites do mundo aprendi na Escola Princesa Isabel em Oeiras, onde fiz uma primária exemplar. A Princesa Isabel tinha um campo de futebol pelado, um recinto de ginástica no subsolo onde aprendíamos música, e uma pequena tipografia no edifício da infantil. Luxos? Com quatro anos, sujei as mãos de tinta e fiquei predestinado. A partir daí, as minhas duas alternativas para o futuro seriam: a) jornalismo ou b) apanhar chocos com tinta na barra do Tejo. Hoje, a carreira de jornalismo não se descobre como outrora, quando se escrevia a tinta e borrão. Os mais velhos, como eu, recordam-se de como a dactilografia artesanal da máquina de escrever nos sujava os dedos. Agora, com os computadores, o mais perto que a nova geração pode ambicionar é escrever textos que sejam uma nódoa.
Vivi os últimos 16 anos com pesadelos de exames e provas por repetir, de orais compulsivas e horários restritivos, e todos estes dias acordei para o sonho que é uma realidade sem escolas e professores, sem modelos de conduta ou bases de moral que não sejam aquelas transmitidas pela poesia vivida da minha família, dos meus amigos ou das minhas mulheres. Aos 10 anos, a minha mãezinha alertou-me: “Agora que chegas ao liceu, prepara-te. Se faltares um dia a uma aula, não terás o professor a ensinar-te a matéria no dia seguinte”. Decidi que seria um bom princípio faltar menos vezes que os professores.
São poucas as memórias que guardo do secundário: talvez uma professora de Inglês que adorava os meus olhos azuis e outra de Físico-Química que vaticinou a minha miopia. Teria sido maior a minha desilusão se a professora de Química tivesse descoberto que a de Inglês era míope? A grande libertação da adolescência foi ter-me permitido questionar a formação em curso. Com 14 anos, a professora de História do Liceu Sebastião e Silva, em Oeiras, decidiu fazer um “texte”. Ainda perguntei a um colega: “Teste não está mal escrito?”. Ele: “Não faças perguntas, responde ao texte”.
Tudo o que sei sobre os limites do mundo aprendi na Escola Princesa Isabel em Oeiras, onde fiz uma primária exemplar. A Princesa Isabel tinha um campo de futebol pelado, um recinto de ginástica no subsolo onde aprendíamos música, e uma pequena tipografia no edifício da infantil. Luxos? Com quatro anos, sujei as mãos de tinta e fiquei predestinado. A partir daí, as minhas duas alternativas para o futuro seriam: a) jornalismo ou b) apanhar chocos com tinta na barra do Tejo. Hoje, a carreira de jornalismo não se descobre como outrora, quando se escrevia a tinta e borrão. Os mais velhos, como eu, recordam-se de como a dactilografia artesanal da máquina de escrever nos sujava os dedos. Agora, com os computadores, o mais perto que a nova geração pode ambicionar é escrever textos que sejam uma nódoa.
(Publicado no Jornal METRO de 23 Janeiro 2009)
1 comentário:
Nunca se vá embora! Nunca!
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